
O que a floresta ensina à organização
Um recente trabalho de teambuilding na Fazenda Serrinha, onde se pratica a agricultura regenerativa, me fez pensar nos ciclos da natureza. Ali, Cecel (um estudioso e praticante da regeneração, que busca compreender a natureza COM o Homem) nos contava, durante um passeio na floresta, sobre como e o que observar na natureza. O chão coberto de folhas e galhos, alguns caíram, outros foram quebrados e arrancados por animais ou tempestades e ventos. Ainda assim, caídos no chão da floresta, tinham função: proteger o solo e guardar a umidade; servir de insumo para sustentar a vida. Reciclagem através mudança de função ao longo do ciclo de vida.
Então, pensamos como podemos olhar as estratégias da natureza e adaptá-las/ usá-las dentro das organizações. Ao final dessa turbulência que estamos atravessando – na floresta seria uma tempestade ou um incêndio – Como estaremos diferentes? Quando sairmos desse momento, como estaremos? Como podemos reciclar hábitos, processos e crenças?
Em conversas com executivos e em sessões de coaching tenho escutado muitos relatos de que estão agora focando no que é essencial e de que algumas atividades distintas começam a aparecer nas organizações. As organizações, assim como a floresta que comentei acima, também têm seus galhos e folhas que caem, mas aqui talvez, por não estarem sendo reciclados, entopem os espaços organizacional e mental, como, por exemplo, um programa ou um processo que não mais se alinha com o propósito da organização.
Tanto no nível organizacional quanto no pessoal, o momento convida à reflexão:
Onde focar atenção? O que precisa continuar e o que precisa mudar? Como lidar com o desafio de continuar e mudar ao mesmo tempo? Por exemplo, precisamos mudar a forma de tratar a natureza antes de destruí-la em níveis críticos e ao mesmo tempo precisamos pagar o aluguel, comprar a comida e outras actividades que dão continuidade à nossa relação destrutiva com a natureza.
Volto à experiência que tive andando pela floresta. O que fizemos ali de diferente foi prestar atenção ao TODO. A floresta está em cada elemento, em cada interdependência, em cada relação. E quando pensamos em nós na natureza, estamos onde? Precisamos reconhecer nossas interdependências e talvez assim, entendendo que estamos sempre fazendo parte de um contexto maior, possamos levar nossa atenção ao que seria a nossa floresta.
A floresta não tem um futuro “desejável” ou sonhado. Ela simplesmente é e evolui constantemente. Hoje a nossa realidade também pede essa abordagem. Menos planos descolados da realidade e mais conexão com o presente. O foco da atenção no presente e na sobrevivência do todo.
Que coisas recebem sua atenção e energia, para além de cuidar as necessidades da vida? Em quais tendências você presta atenção? Como você tem “reciclado” sua capacidade de compilar informação e entendê-la?
Texto inspirado em salões de leitura e reuniões com Nora Bateson, leituras de textos das Dra Kathleen Allen e Asha Singh, trabalho de teambuilding realizado na Fazenda Serrinha com Ana Paula Mattar e muitas outras influências que me fazem parte da ‘floresta humana’.
Originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão no Estadão em 27/10/2020