habitat organizacional
Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão do Estadão em 26/04/2022
https://economia.estadao.com.br/blogs/lentes-de-decisao/habitat-organizacional/
Lançado em 2021, o livro Nature of Work, escrito por Paul Miller e Shimrit Janes, contribui para a perspectiva das organizações como sistemas vivos. Os autores abordam 12 elementos essenciais do ambiente de trabalho, conforme a figura abaixo. Assim como na natureza, todos são interconectados e interdependentes. Quando se tenta falar de cada um isoladamente, perde-se muita riqueza e perde-se o aspecto vivo, pois a vida é toda essa conexão e relacionamento que acontece. Desses 12 elementos elegi refletir hoje sobre os nossos habitats organizacionais. Gosto de pensar em habitat, pois vai além do ambiente. Hoje lidamos com o trabalho híbrido, a volta aos espaços, desafios que vão nos exigir olhar para os nossos habitats e explorar e experimentar novas relações com os mesmos.
Numa era em que falamos de vida e estamos mudando nossas lentes para ver um mundo que muda rápido, ou seja, não é uma máquina previsível, relembrar que somos parte da natureza e profundamente conectados a ela já é um bom caminho andado. Temos já toda estrutura biológica à nossa disposição para lidar com um habitat dinâmico – todos nossos 5 sentidos e mais a intuição. Habitat significa o espaço onde os seres vivos vivem, e se desenvolvem. Habitat compreende o espaço e o ecossistema onde os animais e plantas se desenvolvem dentro de uma comunidade em que outros animais ou plantas que pertencem a essa comunidade também se desenvolvem.
Habitats Organizacionais
Se considerarmos os habitats na natureza e reproduzirmos esse pensamento para nossos locais de trabalho, isso significa passar a focar em habitats que se moldam em torno das necessidades de como as pessoas realmente trabalham em lugar de como outras pessoas acreditam que elas deveriam trabalhar. Um habitat na natureza promove vida; da mesma forma, o foco organizacional deveria ser se a organização, em sua perspectiva de habitat, faz as pessoas se ‘sentirem vivas’. Esse âmbito da vitalidade pode gerar impacto em aspectos tais como produtividade e diversidade.
“O local de trabalho tem a ver com o conceito e contrato psicológico. Para algumas pessoas, tem a ver com pertencimento. Tem a ver com identidade e propósito, o que significa que o habitat organizacional tem diversas facetas, sendo a física e espacial uma bastante importante. Mas é mais que o ambiente físico.”
Sarah Bolas
Conforme redesenhamos e equilibramos as formas como trabalhamos e os habitats organizacionais, os espaços físicos, virtuais, os rituais, a cultura e comunicação devem buscar criar conexão, fortalecer relacionamentos e inspirar o senso de pertencimento. Já não basta focar no ambiente; agora é preciso ter em conta a experiência (viva!).
Cuidar dos habitats organizacionais tornou-se importante nos últimos anos, dado o aumento de casos de burnout e ansiedade e depressão com causa no trabalho. E é quase intuitivo concluir que um habitat insalubre não vai funcionar bem, alguns animais migrarão ou morrerão…
Aqui seguem duas perguntas do livro Nature of Work – com tradução livre de minha parte – para que você possa refletir sobre seu habitat organizacional.
- Como as pessoas que tomam decisões em sua organização ou comunidade de trabalho abordam os habitats físico e virtual no momento? A abordagem trata as pessoas como máquinas ou como seres vivos que sentem os impactos de seu ambiente?
- Com o entendimento do conceito de habitat poderia ser aplicado em sua organização ou comunidade de trabalho para dar mais apoio às pessoas em seus trabalhos?
Temos urgência em criar essas mudanças. A desesperança das pessoas com o trabalho, o burnout, ambientes tóxicos, a dificuldade das empresas em contratar e reter talentos. Há um grande feedback sistêmico mostrando que nossos habitats organizacionais precisam de atenção urgente! Para além do ambiente físico, o habitat precisa sustentar a vida humana e os nossos melhores KPI’s para monitorar ainda são integridade e dignidade.
Aqui vai uma comparação interessante sobre a visão mais usual e a da liderança inspirada em sistemas vivos, do autor Frank Uit de Weerd. E assim vamos girando o caleidoscópio e descobrindo e nomeando novas imagens.
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