
Enfrentando Monstros
Estava com um amigo semana passada dividindo as experiências e os desafios de ser empreendedora depois de tantos anos trabalhando para empresas multinacionais. Falava sobre sentimentos ambíguos de segurança e liberdade e a ilusão que eles representam.
Este foi um grande movimento de transição e precisei mudar comportamentos e trabalhar minha rede de relacionamentos. Sempre foi assim, só que em outras transições que fiz foi mais suave, agora fica claro que sigo com a bagagem das experiências anteriores em uma espiral evolutiva onde os padrões se repetem, mas em um nível diferente do anterior.
Lembramos de um videogame, em que ao vencermos somos recompensados com uma nova uma fase, mais complexa, inserida muitas vezes em “mundos” diferentes dos conhecidos, e cheia de novos obstáculos que temos que enfrentar e ultrapassar.
A cada nova fase chegamos com novas ferramentas que vão nos ajudar a enfrentar alguns monstros no caminho, mas em geral, ainda que com um arsenal a disposição, passamos por muitos perrengues para vencer as batalhas que vão aparecendo. Vivenciamos a derrota muitas vezes até aprender o caminho, insistimos em recorrer ao que fazíamos antes, repetimos saltos e movimentos que não funcionam.
Muitas vezes demoramos bastante tempo para perceber que precisamos mudar e que para utilizar as novas ferramentas temos que abandonar movimentos que foram fatores de sucesso na fase anterior, mas que definitivamente não servem mais no novo contexto do jogo.
Criamos estratégias e seguimos experimentando e as vezes ficamos presos em uma fase sem nos conectar com as novas regras. Apesar do grande prazer ao atingir uma nova fase, nos perdemos sem aproveitar algo que tanto desejamos.
O videogame é uma boa metáfora para os movimentos que fazemos na vida, movimentos que trazem uma nova ordem e geram mudanças, movimentos constantes porque nunca estamos parados, e tudo está sempre começando ou terminando.
Nesta minha “fase” empreendedora tenho me debatido um bocado para ultrapassar os obstáculos internos e externos, compreender as regras e o contexto, que aliás está sempre mudando, e confesso, já tive vontade de declarar “game over”.
Mas os videogames trouxeram uma boa dica…
A curiosidade é um fator chave, nos diferentes jogos, a cada nova fase, criamos expectativas positivas e nos lançamos à ação, não sabemos o que esta por vir, mas a perspectiva da diversão, do humor e o prazer da conquista do desconhecido estão presentes o tempo todo.
Experimentamos sem medo, novos movimentos, novas ferramentas, combinações diferentes que valem para aquele momento, e para aquela condição que só existe naquele instante do jogo.
As descobertas através dos erros que cometemos nos deixam entusiasmados com a esperança que na próxima jogada faremos melhor e ganharemos uma nova chance de avançar, em um outro desconhecido revivendo a excitação de outras descobertas.
Bem diferente da vida real, não é?
Na vida real é comum diante das dificuldades assumirmos outra postura, parece que trocamos a curiosidade pelo medo e ficamos paralisados. Temos medo de falhar, não ousamos tirar todas as ferramentas, experimentar e combinar. Temos medo de deixar de lado o que já é conhecido e fazer papel de bobo, e sermos julgados. Não queremos ficar vulneráveis. Nos esquecemos que são estas condições que aproximam as pessoas e que nos permitem compreender o contexto e as regras.
Consigo ver muitas destas coisas nesta minha fase empreendedora, e entendi que meu olhar muda minha forma de agir e que uma ação diferente me permite enfrentar os desafios sem me debater, acolhendo e criando espaço para o que chega.
Este bate papo despertou uma pergunta em mim, que pode servir para você e acho que para todo mundo: que perspectiva você quer dar para esta fase do seu jogo da vida? O que vai ajudar a seguir avançando com mais leveza e fluidez? Os perrengues, obstáculos e monstros sempre vão fazer parte porque estamos nesta espiral evolutiva, então que tal usar a tática do videogame?!