
Abrace a confusão
“Que bom que você está confusa, isso vai abrir uma possibilidade nova de você lidar com esta questão.”
Me lembro bem quando escutei esta frase, era um projeto complexo, com várias informações que pareciam desconectadas e sem sentido. O cliente buscava um caminho de mais clareza, mas cada vez que observávamos a situação ficava mais difícil encontrar este caminho.
Minha primeira reação quando escutei foi de mais frustração e um desejo sincero de mudar tudo.
E naquele momento o possível era simples, parar e convidar as pessoas para se desligarem por uma hora. Quando retornamos, começamos com perguntas novas.
– Que outras perspectivas não estamos considerando?
– O que você faria que poderia parecer loucura?
– Qual o problema real que estamos enfrentando agora?
– Qual uma primeira ação possível?
E assim surgiu o primeiro movimento, que depois gerou um fluxo de novas ações possíveis, e fomos identificando e vencendo os padrões e emaranhados na confusão natural da situação.
Depois desta experiência passei a olhar a confusão de uma forma diferente, sem querer romantizar porque este não é um estado a ser buscado. Diante de situações complexas a confusão pode ser um ponto de partida para novas ideias e abordagens, um sinal de que nosso cérebro está em processo de adaptação para lidar com o que surge diante de si. Mas como abraçar a confusão?
No desejo de entender mais sobre o tema me deparei com um estudo publicado no JAMA[i] sobre episódios de confusão durante a gestação mostrando que o cérebro passa por um período de reorganização para atender aos novos desafios da maternidade.[ii]
Isso coloca uma luz na forma de encarar um estado de confusão, nossas conexões mentais estão se reorganizando, permitindo que novas ideias e soluções cheguem de lugares diferentes. Elas podem vir de diversas áreas de nossas vidas, incluindo experiências passadas, áreas de interesse ou perspectivas diferentes.
Ao aceitar e abraçar a confusão como uma oportunidade podemos aprender a gerenciá-la de forma saudável e produtiva.
A inspiração muitas vezes vem de fora de nossa zona de conforto!
Tenho experimentado técnicas diferentes para ajudar alguns clientes a lidar com este estado de forma mais saudável, para buscar clareza, identificar a fonte, gerenciar o stress e principalmente não ter medo de pedir ajuda.
É bastante comum que em alguns momentos a gente se sinta perdido, sem saber se tomamos esta ou aquela decisão, as coisas parecem fora do lugar e achamos que não vamos conseguir sair da situação.
Pode ser por uma insatisfação e incerteza com o futuro profissional, dificuldade de entender um tema complexo, um problema de relacionamento, ou uma dificuldade de encontrar um nicho de mercado para atuação, situações desconfortantes e estressantes com as quais precisamos aprender a lidar para que não prejudiquem nossa saúde física e mental.
Este é um processo que leva tempo e requer esforço, temos que sair de um estado de alerta constante e acalmar nossa mente conectando com o coração na busca de coerência.
No papel da liderança, abraçar a confusão, ajuda a trabalhar com a equipe nos desafios de lidar com problema complexos e desafiadores, permite o desenvolvimento da intuição, da resiliência e da criatividade.
Ao invés de se sentir desmotivado, é possível colocar em prática algumas estratégias para reorganizar seu cérebro. Experimente dar um passo atrás e olhar o problema de diferentes ângulos. Talvez você precise conversar com colegas de trabalho, fazer uma pausa para meditar ou simplesmente relaxar e deixar a mente vagar.
Às vezes, precisamos de um pouco de caos para estimular nossa criatividade e encontrar soluções inovadoras. Se você se sentir confuso ou perdido em algum momento, não se desespere. Aceite a confusão como um estado natural da mente e utilize algumas estratégias para reorganizar seus pensamentos. Com um pouco de paciência e perseverança, você será capaz de superar qualquer desafio!
[i] JAMA – The Journal of the American Medical Association
[ii] It’s Time to Rebrand “Mommy Brain” – Clare McCormack, PhD1; Bridget L. Callaghan, PhD2; Jodi L. Pawluski, PhD, HDR3
https://jamanetwork.com/journals/jamaneurology/article-abstract/2801288?resultClick=1
Publicado originalmente no BLOG Lentes de Decisão – Estadão Digital em 06/04/2023