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dor crônica

27 de fevereiro de 2024 por Cláudia Miranda Gonçalves

Texto originalmente publicado no Estadão Digital, caderno de Economia & Negócios, no Blog Lentes de Decisão, em 27/02/2024

No último ano tenho lidado doenças crônicas na família muito de perto, especialmente por ser uma das principais decisoras e apoiadoras na lida com esse perrengue. Nesse momento, as questões estão devidamente diagnosticadas e sendo tratadas em suas diversas camadas e aspectos. Os quadros a que me refiro são complexos, ou seja, precisam de abordagem sistêmica: atenção médica, nutricional, fisioterápica e psicológica, boas doses de amor, limites e de bons momentos pensando e fazendo outras coisas que não focando nas doenças crônicas.

Minhas reflexões e aprendizados em casa têm me trazido insights interessantes e maior clareza em minha vida profissional como consultora e coach executiva: 

Quando a situação começa, não nos atentamos ou achamos que é algo pequeno ou pontual.

O foco de nossa atenção recai no sintoma ou na dor, nos dificultando entender o quadro mais amplo.

Esse mesmo foco no que está doendo desencadeia uma série de reações para lidar com a dor que vão criando outras dores e problemas.

Com o tempo, podemos achar que nos transformamos apenas na dor e que nosso mundo é o problema. 

Começos

Levamos um tempo para nos dar conta dos começos e das mudanças. Começos costumam ser sutis, imperceptíveis, até que em algum momento chamam nossa atenção. E por vezes observamos os desdobramentos e evolução. Nos atentamos à diferença, aquilo que antes não estava, ou o desconforto, a estranheza, a dor. 

Nossa estratégia típica para lidar com sintomas no corpo é COMPENSAR. Se dói o joelho esquerdo, aplico mais pressão e me utilizo mais do joelho direito para evitar desequilíbrios, pisadas em falso ou imobilidade. Com o tempo, posso ter problemas nos dois joelhos, ou no joelho esquerdo e tornozelo direito…

Muitas vezes os problemas em um ponto do processo em uma área acarretam uma sobrecarga em outro ponto do processo. 

O que nos leva a empurrar com a barriga uma solução?

Pode ser medo – imagina ter que operar o joelho!

Medo de que não haja uma cura ou medo de piorar…

Não temos medo de sobrecarregar o joelho bom, nem de fritar o estômago tomando anti-inflamatórios e analgésicos. Não temos medo de mancar.

Quem nunca viveu problemas crônicos em sua área ou empresa? Aqueles que já são conhecidos, mas não são endereçados?

Foco

A dor faz com que nosso foco recaia no ponto onde ela se manifesta. Faz sentido, pois a dor é incapacitante. Mas nunca é só isso. 

Raramente nos dedicamos a buscar a causa raiz, pois a dor faz muitos ruídos e rouba o foco para a erradicação da dor. 

Nas empresas, podemos demitir um colaborador “incompetente” e assim acabar com a dor. Mas, se a dor insiste em voltar, o analgésico da demissão não resolve. É hora de focar no processo mais amplo:

Como ocorre o fluxo de trabalho? O que fazia com que o antecessor não fizesse bem sua função? 

É preciso ampliar o território de buscas por conexões, relações, falhas…

Medos

O medo é a emoção mais conectada com o instinto de preservação e proteção. Nada contra. Mas, nem sempre a favor. Por vezes criamos explicações, justificativas, motivos, para deixar tudo como está. Falamos mesmo em preservação ou conservação da vida. 

O importante é perceber o que preserva a vida, cujo propósito é avançar através das gerações, do tempo, e o que preserva os sintomas. Parece fácil, mas não é.  

Nas organizações ocorre o mesmo; nos apegamos aos meios de fazer algo, às vezes em prejuízo daquilo que realmente precisa ser feito ou garantido. 

Normalmente é aqui que meu trabalho mais acontece. É recobrar o entendimento do propósito, entender e aceitar o que precisa deixar de acontecer, abrir caminho para o que precisa acontecer. 

Não se trata de perder seus medos, mas antes, de se ter conversas profundas e honestas com eles.

Para lidar com nossos quadros crônicos nas organizações, precisamos nos munir das perguntas que nos tirem do foco no problema e nos abram perspectivas.  

O que vai acontecer se não fizermos nada de diferente?

Qual o pior medo na nossa área, equipe, organização?

Como descrevemos quem somos?

Quais nossas dores crônicas? O que se torna possível se as dores não existirem mais? Quem temos que nos tornar para garantir isso?

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