O Poder da Tensão nas Equipes: Impulsionando Mudanças e Inovações
Em um mundo corporativo em constante evolução, as organizações enfrentam a necessidade de se transformar para se manterem competitivas e relevantes. Contudo, esse processo de transformação raramente é linear ou desprovido de desafios. Um dos elementos mais cruciais – e muitas vezes subestimados – desse processo é a tensão que surge nas equipes. Embora, à primeira vista, a tensão possa parecer um fator negativo a ser evitado, ela desempenha um papel vital no impulso de mudanças significativas. Na verdade, é na tensão que encontramos a força motriz para a inovação, o desenvolvimento e a adaptação.
Observo que as equipes e os indivíduos têm muita dificuldade de lidar com a tensão. Há uma tendência de evitar situações que gerem desconforto, promovam debates ou representem rupturas. Dessa dificuldade surge uma questão maior: a falta do entendimento sobre o que impede que os objetivos sejam alcançados.
Pode parecer simples fazer este diagnóstico, mas há uma tendência de atribuir a responsabilidade pelos objetivos não alcançados à relação tensa entre áreas ou pessoas envolvidas, minimizando ou ignorando o contexto mais amplo e complexo que envolve muitos outros indivíduos e interesses.
Iniciei um trabalho com uma equipe altamente qualificada, cujo objetivo era melhorar o desempenho para gerar inovação e se preparar para mudanças nos negócios. Fui alertada de que dois membros tinham muitos conflitos tornando desafiador tê-los juntos no processo. Na primeira reunião, presenciei um embate intenso que deixou toda equipe desconfortável.
Como facilitadora foi crucial ter uma escuta generativa e fazer uma leitura clara do contexto buscando dados e informações para promover intervenções eficazes focadas na equipe. Ficou claro que evitavam confrontos diretos, resultando um clima “agradável”, mas que desviava a equipe de discussões relevantes e da tomada de decisões críticas. O conflito estava sempre na pauta como a “desculpa” pelos resultados da equipe.
Casos como este são comuns dentro das organizações, e usualmente observo a busca por soluções pontuais para evitar a tensão, muitas focadas nos indivíduos, mas que posteriormente voltam a emergir com mais intensidade dentro da equipe.
Buscar a tensão necessária para realizar a transformação que vai fazer a diferença significa, muitas vezes, acrescentar mais tensão ao que a equipe está vivendo. Embora seja contraintuitivo, esta é uma abordagem muito boa diante da complexidade das situações.
A pergunta chave foi: “O que vocês querem fazer como equipe com o que está acontecendo aqui? Como querem tratar esta tensão que hoje envolve dois membros do time, mas que impacta a todos?” Envolver toda equipe de forma clara e transparente aumentou a tensão, mas também despertou os envolvidos para as consequências e impactos de suas ações, além de chamar todos à responsabilidade coletiva provocando reflexão sobre o que eles realmente precisavam cuidar para alcançarem seus objetivos.
Uma equipe madura capaz de buscar alto desempenho precisa ser capaz de ter diálogos e enfrentar suas questões juntos, tomando decisões e assumindo responsabilidade por suas ações e consequências.
Muitas vezes o conflito está a serviço da manutenção de um estado e de um padrão e não enfrentá-lo de frente e com profundidade torna mais difícil o processo de inovação, ainda que ele seja muito desejado.
É crucial que as equipes aprendam a dialogar constantemente, observando seus contextos e criando conexões profundas que permitam vulnerabilidade e apoio mútuo. Este é um trabalho que requer coragem para promover conexões verdadeiras, capazes de romper padrões de comportamento e questionar profundamente o que impede a verdadeira transformação.
Como podemos nos preparar para sermos agentes nos processos de transformação? A chave está em enfrentar as tensões de maneira construtiva, promovendo um ambiente onde o conflito é visto como uma oportunidade para crescimento e inovação.
(i) Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão do Estadão Digital em 31/05/2024.
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