Visualização Sistêmica
Um diretor de uma multinacional brasileira solicitou uma proposta para um teambuilding de sua equipe. Sua demanda era: “Tenho uma equipe que se configurou há pouco tempo e que não funciona bem! Preciso que trabalhem melhor em conjunto”. E acrescentou “Tenho estado muito irritado com a falta de autonomia do time, pois preciso do meu tempo para cuidar de um problema com um cliente por causa de um grande contrato.”
Nada de novo: um diretor com tarefas importantes que disputam seu tempo e atenção. Vamos dar um mergulho nas bases da gestão.
Basicamente um líder se encontra no seu dia-a-dia perante cinco grandes pilares que precisam do maior cuidado, principalmente na tomada de decisão:
- Funcionalidade
- Eficiência
- Legalidade
- Ética econômica
- Sustentabilidade
Uma decisão é boa quando leva a algo que funciona (funcionalidade), que é feito de forma eficiente (eficiência) e que é legal, ou seja, quando as leis são cumpridas (legalidade). Olhando só para esses três pilares, verifica-se que não necessariamente um está em harmonia com outro. Todos nós sabemos disso: o que funciona bem, às vezes é caro demais, e talvez o que dá para financiar, não atende à legalidade.
Quando o executivo toma uma decisão econômica, deve olhar para o equilíbrio entre esses 3 pilares, o que ocupa normalmente o dia dele.
O que acontece se agora incluímos o pilar da ética econômica, considerando os efeitos colaterais das ações, olhando de perto o que o executivo coloca no espaço e como isto afeta os outros, e o pilar da sustentabilidade , o entendimento de como manter ou preservar a substância – de onde é que, na verdade, os recursos permanentemente vem? O que fazemos para investir nisto?
Em relação aos dois últimos pilares, muitos gestores falam: “A ética econômica e a sustentabilidade são muito importantes. Penso nisto no fim de semana. Na semana não dá.”
Para atender bem os três primeiros pilares o executivo aplica principalmente o pensamento lógico causal (mecanicista) que conhecemos bem desde pequenos: a avaliação de certo e errado. Já os dois últimos pilares, que são relacionais, precisam de outro modelo de pensar/ analisar: o pensamento sistêmico complexo.
Na Alemanha, na Universidade de Bremen, na área de Gestão Sustentável do Departamento de Administração e Economia o professor Dr. Müller-Christ aplica a ferramenta de visualização sistêmica tanto em seu trabalho com empresas quanto em sala de aula.
A Visualização Sistêmica (constelação organizacional) é uma ferramenta muito útil para representar sistemas complexos e deixá-los falar.
Constitui-se uma imagem e chamamos isso de uma visualização sistêmica. No nosso exemplo colocamos as premissas relevantes na decisão e ação de um líder no espaço. Nessa imagem observamos simultaneamente os pilares e os possíveis conflitos entre eles. Tendo mais consciência sobre dificuldades ou disputas entre os pilares, podemos tomar decisões mais sólidas.
Voltemos para a questão do diretor do início. Ele posicionou a seguinte imagem:
A imagem mostra que o diretor olha para a dificuldade com questões legais de contrato com o cliente e têm a equipe fora de sua visão e do foco.
Nessa visualização sistêmica o diretor viu, ouviu e sentiu o que já sabia (rodava no pensamento nele): o foco dele na questão com seu cliente tomou toda a sua energia e não restou para sua equipe. Percebendo desta forma o impacto, ele se abriu para encontrar uma nova maneira de poder atender ao time e ao problema com o cliente. Ele pôde testar novas possibilidades.
Faz a diferença o olhar sistêmico onde as frentes de responsabilidade aparecem simultaneamente. A visualização sistêmica tirou o executivo do piloto automático, da reclamação e o confrontou com as responsabilidades que, pela função, estão na mão dele. Percebeu que focando de forma tão concentrada na legalidade, ele estava tentando resolver algo que nem estava em seu domínio e deveria ser tratado em outras esferas na empresa.
O que nos puxa em nossas decisões e ações? Sabemos mesmo? Estamos conscientes?
Fonte: BLOG Lentes de Decisão – Estadão
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