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De complicado a complexo

22 de setembro de 2020 por Cláudia Miranda Gonçalves

Você tem a sensação de que liderar está ficando mais difícil? É verdade. A sensação de aumento exponencial na dificuldade é bem real. Isso porque o contexto organizacional era mais fechado do que é hoje. Para entender um pouco mais sobre essa mudança, apresento aqui um quadro comparativo de situações e problemas complicados e complexos.

comparativo: complicado e complexo

Problemas e situações complexos acontecem em sistemas fechados que possuem um conjunto definido de variáveis. Possuem lógica (causa – efeito) e dinâmica lineares limitados ao sistema fechado em que operam. Tanto a física newtoniana quanto a teoria de liderança do grande homem (séc. 19, Abraham Lincoln seria um bom representante) se alinham com os elementos de sistemas complicados.

Porém, problemas e situações complexos acontecem em sistemas abertos, que têm um conjunto de variáveis em contínua expansão. As dinâmicas, além de não-lineares são irrestritas e imprevisíveis. Exemplos: física quântica, sistemas complexos adaptativos, paradigmas biológicos, e teorias de liderança disruptivas.

A conectividade e transcontextualidade aumentadas obrigam as organizações e as pessoas nelas trabalhando a mudar sua forma de pensar e fazer. Ficou complexo. Mas, a boa notícia é que há 3,8 bilhões de anos a natureza opera assim e nós, neste planeta há cerca de 200 mil anos já surgimos prontos para funcionar num contexto assim. Precisamos lembrar. Quando conseguimos dominar as situações e problemas complicados, acreditamos que tínhamos conseguido! Acreditamos que daí para frente era uma questão de refinar e melhorar nosso conhecimento e controle. Mas, situações e problemas complexos podem ser frustrantes se tentarmos lidar com eles como se fossem complicados. É mais ou menos neste ponto que estamos. No ponto de aceitação dessa realidade complexa. Intelectualmente já falamos do mundo VUCA e de sistemas com certa intimidade. Mas, nossas estratégias para lidar com a complexidade ainda precisam amadurecer. Como é que podemos fazer isso?

Como se anda num piso escorregadio, ou se patina, ou se surfa uma onda? Quem já caiu num piso escorregadio, tentou patinar se agarrando no corrimão da pista de patinação, ou tomou um caldo no mar deve ter aprendido que tentar resistir ou tentar controlar os movimentos resulta em fracasso e tudo o que conseguimos pensar enquanto tentamos dar conta é em não fracassar. Quem se entregou ao movimento emergente, à situação sem tentar controlá-la, provavelmente teve melhores resultados. A resistência pode vir do apego aos modelos mais tradicionais de gestão e liderança, que já funcionaram bem no passado, quando as coisas eram apenas complicadas. Prever, planejar longo prazo, controlar faziam sentido e funcionavam. Se entregar ao contexto exige, em primeiro lugar, confiança tanto em si mesmo como um ser capaz de sair de situações complexas e também na vida, entendendo que o fluxo da vida resulta mais positivo que negativo. A natureza leva a vida de uma geração à seguinte há 3,8 bilhões de anos. Dá para confiar. Em segundo lugar, se entregar ao contexto implica em humildade diante da situação, pois implica na perda do controle. Estamos todos sujeitos a forças e situações maiores do que nós. Lembremos, pois, de que somos parte. É apenas como parte que podemos suceder e seguir em frente. É apenas quando deixamos de resistir ao piso escorregadio ou aos patins que podemos fluir no movimento e nos divertirmos.

Então vem outro ponto importante. Como percebo que estou no piso escorregadio ou na água? Tomando distância de quando em quando. Esse afastamento, a visão de cima nos ajuda a perceber padrões e loops, pois a natureza tem disso. Os ciclos revelam os ritmos das mudanças e da vida. Talvez seja um bom momento para deixarmos ir o modelo de liderança de controle, que já nos serviu tanto e com certeza está na base de modelos mais novos e mais condizentes com nossos desafios atuais. O que ainda fica é o protagonismo de cada um, pois todos fazem parte do problema e da solução.

Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão no Estadão em 22/09/2020

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