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Mudando o foco

29 de dezembro de 2020 por Cláudia Miranda Gonçalves

Para mostrar de forma concreta como a visão sistêmica pode ajudar  na tomada de decisões, pedi que participantes de um workshop elencassem os elementos importantes em seus contextos para que então pudéssemos entender as relações entre os mesmos e, a partir da visualização sistêmica, buscar o primeiro passo para uma nova abordagem/ solução. Tirar as coisas de dentro da cabeça e representá-las seja no papel ou com post-its ou ainda mind maps nos dá acesso à imagem interna e a relação entre os elementos, nos oferecendo um primeiro passo para tomarmos consciência do que nos move. A representação externa nos brinda com o poder de observar na complexidade. Se ficams no loop mental, diante de estresse ou crise, nossa resposta biológica pode ser de congelamento. Travamos. Podemos ficar horas, dias, semanas ou mesmo um longo tempo presos em conjecturas, especulando mentalmente, fazendo e desfazendo cenários, ou pior, tomamos más decisões.

Eis  que um participante, empresário muito preocupado com a crise, monta a figura 1 e explica:

“A crise afeta as vendas e a equipe. Como motivar essa equipe?  Como otimizar ou melhorar processos para fazer frente à crise?”

Tudo girando em torno da crise, sobre a qual não temos controle ou gerência. É assim que ficamos. Falamos da crise, discutimos os culpados, o que deveria ser feito, como a crise nos atrapalha, o que fez com nosso mercado. Mas e daí? Quando entendemos que o estresse e medo nos paralisam e nos deixam num estado mental e de ânimo ruim, percebemos o quanto ficamos pouco criativos e nossas decisões podem ser ruins.

E enquanto estamos ali contemplando a crise no alto da lista, o sentimento de impotência vai enterrando nossa criatividade. Nos desconectamos de nossos recursos.

Então sugeri uma mudança na organização dos elementos:

E quando o empresário olhou a nova disposição disse: “Aí muda!”.  Embora a crise não tenha desaparecido como que por encanto, ele relatou que via a crise agora como um pano de fundo e não como imagem principal, destacada. Quando começou a olhar como a crise afetava cada um dos elementos, mas com foco nos elementos em lugar da crise, começou a imaginar algumas alternativas. Reconectou-se com seus recursos.

As mudanças ocorrem como respostas às crises. Por isso, crises são importantes fatores de desenvolvimento. Verdadeiras oportunidades para fazer melhor.

Numa terceira possibilidade, questionei sobre o cliente, que havia sumido no meio da crise.  Mais uma vez, no estresse, olhamos para dentro, para nossa proteção em relação à crise, e nos fechamos para ver o cliente. É sempre uma reflexão importante se a resposta à crise está mais a meu serviço do que a serviço do mercado, do cliente. Explorar as novas necessidades do cliente, colocar prioridade nisto pode ser mais importante e assim conseguir canalizar a criatividade para atender ao mercado.

Então, muito embora acabar com a crise não esteja nas suas mãos, definir qual o lugar que esta ocupa em sua mente e como lida com ela está em suas mãos. Se ficar no centro de suas atenções, a crise será a rainha! Se ficar como pano de fundo que não pode controlar, poderá ser um prato no qual você verá servidas oportunidades de mudança e crescimento.

Biologicamente, somos programados para autorregulação e crescimento. Como parte da natureza, é nosso destino evoluir e crescer. Assim, a crise nos traz essa dolorosa, mas boa oportunidade.

Então está na hora de pegar seus post-its, anotar os elementos salientes de seu contexto, daquilo com que tem que lidar e ordená-los. O que observa? O que mais lhe chama atenção? Depois pode explorar mudando-os de lugar. Qual a diferença? Alguma nova ideia?

Nos encontramos em 2021.

Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão no Estadão em 29/12/2020

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