
Futuro do trabalho – Geografia e Níveis Sociais
David H. Autor, guru que estuda o futuro do trabalho, me deixou bastante pensativa em sua palestra no MIT. Embora suas conclusões se apoiam em estudos da sociedade americana, acredito que, guardadas as devidas diferenças, elas valem para nós também.
O que está mudando?
O que podemos fazer (e em que velocidade) para acompanhar as mudanças?
Quais são as mudanças adaptativas que precisamos implementar?
Desde os anos 1980, temos mais pessoas educadas e, consequentemente, mais delas sendo contratadas.
Isso se explica porque a necessidade de trabalho analítico e criativo aumenta a necessidade de pessoas com maior grau de educação.
Por outro lado, o trabalho sem habilidades vem sendo menos bem pago e de fato estes salários estão caindo. Em outras palavras, assistimos uma mudança ocupacional dramática entre 1970-2016.
Em detalhes:
Polarização do Trabalho:
- Trabalhos que exigem habilidades sofisticadas: empregabilidade aumentando em posições gerenciais, profissionais e técnicas;
- Trabalhos que exigem poucas habilidades: empregabilidade subindo em serviços pessoais – limpeza, segurança, recreação, cuidados de saúde;
- Trabalhos que exigem habilidades médias: empregabilidade caindo em linhas de produção, administrativo, vendas.
Ou seja, a automação está devorando os trabalhos que exigem um nível médio de habilidades. Dentre os trabalhadores com ensino superior, a mobilidade está subindo, enquanto que para aqueles sem ensino superior a mobilidade está sendo quase exclusivamente abaixo da linha inicial.

A polarização:
- Ganhos divergentes, tarefas divergentes;
- A geografia de ocupações e salários está mudando;
- A geografia dos trabalhadores está mudando também;
- Qual é e onde está o trabalho do futuro?
Outras informações relevantes:
Nas cidades grandes as pessoas são mais produtivas e trabalham mais em comunidades e redes. O trabalho se tornou mais similar dentre os sem ensino superior e os salários caíram; para estes, tanto a especialização quanto os salários caíram. Quem estava num patamar médio também caiu.
Os adultos mais bem educados são também os mais jovens, pois essa é a geração que está estudando mais. Outra característica deste grupo: eles são mais urbanos. Assim, a estrutura ocupacional das cidades agora é mais escolarizada.
Em 1950 a área rural era mais jovem que a área urbana. Nos últimos 60 anos as áreas rurais envelheceram 12 anos e as cidades ficaram 6 anos mais jovens. A mortalidade caiu mais nas cidades que na área rural.
As cidades estão mais seguras e há uma mudança na educação nos grandes centros urbanos. Além disso, as pessoas cuidam do seu bem-estar, pois elas estão vivendo mais. Pessoas com nível superior de educação mudam-se para áreas mais densamente populadas. Nos Estados Unidos, as pessoas estão se mudando menos para os subúrbios.
Essa mudança na mobilidade das pessoas adultas tem acontecido porque as cidades têm os melhores empregos e também estão mais acolhedoras para as famílias, além do fato de que as pessoas estão adiando a decisão de ter filhos (quando elas iriam para os subúrbios).
Por fim, é importante ressaltar que a geografia do trabalho está assim:

Para aqueles sem educação superior, as ocupações de habilidades médias estão escassas tanto nas cidades quanto nas áreas rurais. Ou seja, as ocupações que necessitam poucas habilidades continuam prevalecendo. Para as pessoas com educação superior, houve pouca mudança na distribuição.
Em outras palavras, a tecnologia mudou o trabalho e a geografia para aqueles com baixo nível de habilidades; já para os que têm nível superior, mudou apenas o tipo de habilidades requeridas.
Para aqueles que tinham um nível médio, a mudança sai de posições técnicas, agora automatizadas, para conveniência, cuidado e manutenção.
Faz ou não faz pensar?
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On the road
Decisões de futuro
Futuro do Trabalho – Humano
Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão no Estadão em 17/09/2019