https://www.instagram.com/we.holon/ https://www.linkedin.com/company/weholon https://www.facebook.com/weholon-102415231543436

O que é mesmo colaborar?

05 de fevereiro de 2019 por Cláudia Miranda Gonçalves

Colaborar é uma das palavras da moda. E como tal, anda muito mal interpretada por aí. Desde que mergulhei de cabeça em uma formação em pedagogia da cooperação e que iniciei um projeto colaborativo, que acaba de ser lançado, este verbo me instiga a pensar nas estruturas que suportam a colaboração.

Então, vamos começar com algumas perguntas:

  • Será que colaborar é algo tão novo e disruptivo assim?
  • Qual é o maior desafio desse modelo?
  • E quais são os ganhos?

E por fim, a pergunta que me motivou a escrever este texto:

  • O que é colaborar?

Primeira pergunta, colaborar é algo novo? Não, definitivamente não é. Trabalhar junto é algo que fazemos desde sempre. Ninguém planta uma lavoura sozinho, ninguém ergue uma indústria só com ideias na cabeça, ninguém consegue fazer de uma casa um lar, sem um projeto em comum. No entanto, podemos dizer que a colaboração é uma característica do nosso tempo porque, nas últimas décadas, temos agregado ferramentas importantes para diminuir distâncias, para chegar mais perto das pessoas, para compartilhar textos, sons e imagens que nos aproximam.

Neste projeto que mencionei acima, somos quatro profissionais, com trajetórias incrivelmente diferentes, agendas tumultuadas e ritmos de trabalho completamente diversos. Moramos em 3 distantes estados do Brasil e contratamos fornecedores que vivem, inclusive, fora do país. Há dez anos atrás, esse encontro seria menos possível e provavelmente bem menos harmônico. Hoje, digo, sem sombra de dúvidas, que a diferença, a distância e a multiplicidade foram os reais motivos do sucesso do projeto. Resumindo, colaborar não é algo novo, mas ficou mais fácil e estimulante nos últimos anos.

Passamos, então, para a segunda pergunta: qual é o maior desafio desse modelo? Eu diria que o maior desafio é o tempo. Quando você trabalha em colaboração não pode esperar que o outro funcione no seu tempo. Sim, precisamos seguir um planejamento com datas, prazos e expectativas, mas precisamos respeitar sempre o tempo do outro. Algumas pessoas, por exemplo, deixam tudo para o último dia e produzem brilhantemente com essa pressão de correr contra o relógio. Isto, certamente, é angustiante para quem quer entregar antes do prazo, mas em nada desafia o objetivo final. Um dos meus parceiros neste projeto, o professor João Bastos, costuma dizer que o processo colaborativo potencializa o pertencimento. E ele tem razão, não se deixa para depois quando sabemos que temos outras pessoas que dependem de nós, que aguardam por nosso trabalho, que se engajam conosco em um projeto. Cooperar significa dar o melhor de si para um bem maior. Como eu costumo dizer, quanto mais eu, menos eu (quanto mais me coloco a serviço da construção coletiva, quanto mais expresso e contribuo de forma intensa e individual, maior será minha contribuição para a criação de algo que já não sou eu.).

E os ganhos? Os ganhos são muitos, mas vou resumi-los em uma só palavra: resultado. Trabalhar colaborativamente é chegar a um produto diverso porque ele tem um pouco de cada pessoa, um pouco de cada realidade, um pouco de cada cultura, um pouco de cada história. Este produto, no final, tem muito de tudo e fala com um grupo muito maior de pessoas. Isso, para mim, ficou muito claro neste projeto. A Anne sempre nos lembrava como era importante produzir uma metodologia simples, fácil de ser entendida e aplicada. Foi difícil, eu confesso, pois trabalhamos com conteúdos muito complexos, mas por nossos esforços colaborativos, conseguimos integrar complexidade e simplicidade de uma maneira ímpar, que tocou e transformou pessoas com objetivos de vida distintos e carreiras completamente diversas. Esse foi o nosso maior retorno e está presente em todos os feedbacks que recebemos do projeto. E, volto a afirmar, só conseguimos isto tudo por nossa força de grupo, nossa troca, nossas contradições, nossas diferenças; ou seja, foi por nossa colaboração. E como bem me lembrou a Sônia Onuki, “confiar é tecer laços”, o que nos alerta para o fato de que  não existe colaboração real sem confiança e respeito. Quer ganho maior do que este?

Acho que o nosso exemplo pode ajudar a responder mais algumas perguntas recorrentes sobre o tema, por isso continuo falando de nós. A colaboração entre nós se deu em diversos níveis e de várias formas. Em termos de níveis, do mais superficial aos mais profundos. De decidirmos fazer todos nossos encontros em um único estado (em lugar de fazer um rodízio entre os  estados para contemplar a todos em atenção à Maria, a filha de Anne, que tinha apenas 3 meses quando demos o pontapé inicial no projeto) à  sustentarmos nossas diferenças (brigas, não!) até que delas surgisse algo realmente inovador, que sempre transcendeu a tensão. Sim, soubemos dar boas-vindas às tensões, pois ali tínhamos a humildade de aprender a ver algo que não conseguíamos enxergar anteriormente. Cooperamos, também, ao pedir socorro em momentos difíceis, em fazer junto algo que empacava e teimava em não sair do lugar. E, por fim, sabíamos celebrar cada momento e cada conquista. Além disso, conseguíamos enxergar a todo tempo exatamente o que queríamos, tendo a firme noção de que o projeto da Jornada Sistêmica era maior que cada um de nós.

Agora, para resumir tudo isso, quero responder à última pergunta da forma mais concisa possível: o que é colaborar?

Colaborar é:

Executar, ou seja, não é esperar pelo outro.

Somar, não é dividir.

Aprender com o outro, não é ensinar.

Arriscar, não é acertar.

É ouvir mais e falar menos.

É estar mais seguro porque você tem mãos para não largar.

Viu só, colaborar é e não é muitas coisas. Mas ainda tem uma coisa super importante sobre a colaboração quer eu quero dividir com você:

Colaborar é ter coragem.

Ter coragem de fazer tudo isso aí (executar, somar, aprender, arriscar, ouvir, buscar segurança) para experimentar uma recompensa coletiva.

*Este texto é dedicado aos meus parceiros na Jornada Sistêmica. Anne, João e Sônia, vocês me enchem de coragem. E é uma reverência ao nosso mestre em comum, Bernd Isert. Bernd, você está em nós.

Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão no Estadão em 05/02/2019

Voltar

Este site utiliza cookies para melhorar a sua experiência. Nós assumimos que isto é ok para você, mas você pode desativar se quiser. Estou de acordo.
Se você quiser entender melhor o uso dos cookies veja mais aqui – Política de Cookies.

Concordar e fechar