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a caverna

30 de junho de 2023 por Cláudia Miranda Gonçalves

Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão, Estadão Digital, caderno Economia e Negócios, em 30/06/23

https://www.estadao.com.br/economia/lentes-de-decisao/a-caverna/

Tempo, rapidez e adaptação

Em um artigo recente do Human Adaptation Institute, li sobre um experimento chamado Deep Time, onde 15 voluntários passaram 40 dias em uma caverna sob os Pirineus, sem luz natural ou relógios. Fiquei fascinada com este artigo por dois motivos. O primeiro é que eu não fazia ideia de que havia um Instituto de Adaptação Humana (cujo objetivo é “entender melhor os mecanismos cognitivos e fisiológicos da adaptação humana diante de mudanças rápidas ou de longo prazo.”)

O artigo também parecia significativo porque, como humanos, estamos todos em meio a mudanças de curto e de longo prazos. A natureza nos mostra que as espécies e a vida vegetal se adaptam o tempo todo. Os seres humanos têm a mesma capacidade de adaptação, mas às vezes nossas crenças, visões de mundo e emoções atrapalham nossa capacidade de adaptação. O medo, por exemplo, nos faz resistir ou ignorar o feedback que estamos recebendo sobre como o mundo ao nosso redor está mudando.

Na natureza, as coisas funcionam por instinto, sem consciência, ou pelo menos sem o tipo de consciência que os humanos trazem à vida. O propósito do experimento de Adaptação Humana era “estudar a adaptação – como nos adaptamos a novas situações, novos ambientes ou eventos … [e] como podemos mudar repentinamente nossa maneira de fazer as coisas quando nossa situação muda.

Nos meses de confinamento devido à COVID-19, percebi que o tempo parecia fluir de maneira diferente. Às vezes parecia estar fluindo rápido e outras vezes parecia mais lento do que o normal. Alguns dias, acordava com a percepção de que mais um mês se passou.

O que aconteceu com o inverno? O que aconteceu com o mês passado? Como a pandemia mudou tantas coisas, ela também influenciou nosso senso de tempo. (A propósito, parei de usar relógio.)

A pandemia nos desafiou a nos adaptar a muitas coisas. Nossa noção de tempo parece diferente até mesmo de uma mudança para trabalhar em casa, por exemplo. O projeto Deep Time foi concebido para observar como os humanos se adaptam quando os colocamos em uma caverna sem contato externo, sem luz solar e sem relógios.

Tempo da natureza e tempo construído

E qual foi a segunda razão?, você pergunta. O segundo ponto impactante (para mim) que saiu desse estudo foi este comentário:

Bem, no final, nunca pensamos nossa! isso foi rápido ou está demorando muito’. Estávamos sempre levando a quantidade certa de tempo. Porque não havia relógio para comparar.”

A natureza leva apenas o tempo e os recursos necessários para realizar a tarefa e nada mais. Na cozinha também é assim. Temos essa experiência do tempo das coisas (dos processos) e da vida. Aqui neste estudo, um fenômeno semelhante aconteceu. Sem o relógio, dizendo se estavam indo rápido ou devagar demais, as pessoas neste experimento se concentraram na tarefa e levaram o tempo que precisavam para realizá-la.

Como seres humanos, construímos muitas coisas que interferem no fluxo orgânico da vida e do trabalho. Nosso relatório de ganhos trimestrais, os cronogramas que criamos para os projetos e até mesmo o número de minutos que agendamos para nossas reuniões são exemplos de como construímos medidas artificiais para avaliar nosso desempenho. E se, em lugar disso,  decidíssemos marcar nossas reuniões de forma que elas terminassem assim que o objetivo da reunião fosse alcançado? Talvez nos dedicássemos a ouvir mais profundamente as pessoas da reunião e, por causa desse foco, poderíamos cumprir nosso propósito mais rapidamente. Assim, as reuniões que normalmente duram uma hora poderiam terminar em 15 ou 30 minutos e cada um de nós se beneficiaria de mais tempo.

Se usássemos o tempo da natureza em vez do tempo criado pelo homem, estaríamos presentes no momento com mais frequência? Iríamos realizar as coisas despendendo apenas o tempo necessário? Estaríamos menos estressados ​​porque não estaríamos nos julgando em nosso progresso com base em uma construção artificial? Talvez devêssemos reservar um tempo (com o perdão do trocadilho) para nos fazer essas perguntas.

 Aqui está um link para o artigo caso você queira lê-lo na íntegra. Coisas fascinantes!

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