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A coragem de sustentar o que faz sentido

10 de junho de 2025 por Andréa Nery

Vivemos tempos de intensidade. O mundo gira cada vez mais rápido e, muitas vezes, somos engolidos por uma rotina de urgências, expectativas e decisões complexas. Nessa velocidade, corremos o risco de perder aquilo que nos ancora: o sentido, a clareza e a conexão verdadeira — com nós mesmos e com os outros.

Recentemente, tive a oportunidade de vivenciar algo diferente. No evento ENTRE, reunimos um grupo de cerca de 20 pessoas em um espaço cuidadosamente preparado para algo que está cada vez mais raro: a pausa consciente, a presença genuína e a escuta profunda. Não havia pressa, nem metas a cumprir. Havia um chamado à inteireza.

Ali, naquele encontro, algo se revelou com muita força: estávamos habitando uma ilha de coerência. Um território simbólico em meio ao caos do cotidiano, onde nossos corpos, palavras e intenções estavam alinhados. Onde o silêncio dizia tanto quanto as falas. Onde o coletivo acolhia, e cada um podia simplesmente ser. E, nesse ser, fortalecer-se.

Essa imagem da ilha já me acompanha há algum tempo, tenho tido diferentes oportunidades de interagir com grupos que trazem uma preocupação genuína pelas questões complexas que estamos vivendo como humanidade no planeta. Algumas vezes nestes grupos nos sentimos sós e impotentes, quer seja diante do trabalho pela equidade de genero ou de discussões sobre sustentabilidade nos negócios, e neste momento surge forte a questão de como fazer a diferença e principalmente acelerar a consciência e os resultados desejados.

Em uma sessão com Otto Scharmer, ele apresentou um panorama sistêmico amplo. Ao observarmos juntos o caos inerente à realidade atual, comecei a compreender o real significado das ilhas de coerência. Ao mergulharmos abaixo da superfície do mar, somos capazes de ver que as ilhas que surgem da superfície do planeta, aparentemente separadas, são na realidade conectadas. 

E se começássemos a prestar atenção nesses pequenos territórios de sentido? E se compreendêssemos que não estamos sós, que há outras ilhas de coerência surgindo — em rodas de conversa, projetos com significado, comunidades que cultivam presença e escuta? Se essas ilhas se conectam, podem formar redes fortes o suficiente para sustentar transformações verdadeiras. Mais do que tentar mudar o mundo todo de uma vez, talvez o caminho esteja em nutrir e proteger esses espaços. E, a partir deles, agir.

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“Quando um sistema complexo está longe do equilíbrio, pequenas ilhas de coerência em um mar de caos têm a capacidade de levar todo o sistema a uma ordem superior.”

Ilya Prigogine, químico ganhador do Prêmio Nobel

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Também, em outro trabalho com líderes de uma organização, foi possível observar a “formação” de um espaço possível para vislumbrar um futuro onde exista pertencimento e um relacionamento com pessoas mais presentes com elas, com os outros e com o mundo. Foi um processo profundo de autoconhecimento, em que compartilhamos uma intenção comum de criar algo significativo — expressando propósito, gerando conexões, compreendendo interdependências, reconhecendo o poder da colaboração e cultivando um espaço resiliente e estável, capaz de inspirar inovação, aprendizado e transformaçãomesmo em meio ao caos.

Essa experiência me mostrou que a liderança é sobre criar estes espaços – internos para sua própria regulação, impacto e bem estar; e externos para as pessoas que você apoia e os sistemas aos quais você pertence. Abrir mão do controle, promover estabilidade em meio a complexidade e ser capaz de sustentar um espaço para a possibilidade e a transformação. 

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Você consegue reconhecer quais são suas ilhas de coerência?

Com quem você compartilha clareza e coragem?

Como se tornar um ponto de conexão entre diferentes ilhas?

Como suas ações e decisões contribuem para criar um senso de coerência para sua equipe ou organização? 

Onde você pode ser mais intencional?

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Talvez a mudança profunda que buscamos não comece com grandes discursos, mas com pequenos encontros — com nós mesmos e entre pessoas dispostas a sustentar umas às outras em um mundo que precisa, mais do que nunca, de redes humanas.

Talvez a maior revolução seja aprender a cultivar presença em meio ao ruído, e em tempos de pressa, escolher a coerência como um ato de coragem. A transformação começa quando escolhemos sustentar o que faz sentido.


Originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão do Estadão Digital em 10/06/2025

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