
A Liderança Feminina nas Organizações
A recente publicação do relatório de 2022 do “Women in the Workplace”[i] produzido pelo LeanIn Organization e McKinsey & Company mostra resultados muito importantes sobre os desafios para avançar com a diversidade de gênero no ambiente de trabalho corporativo.
Desde 2015 esta pesquisa vem contribuindo para reflexões e desenhos de iniciativas que contribuam para aceleração da participação das mulheres nos níveis mais altos das corporações.
Os resultados já refletem as mudanças trazidas pela pandemia e mostram que as iniciativas precisam vir de lugares distintos e coordenados. De trabalhos de conscientização a ações intencionais e diretas é preciso considerar uma visão sistêmica e o entendimento do contexto em que as mulheres estão inseridas.
As palavras de ordem continuam sendo oportunidade, flexibilidade, bem-estar, diversidade, equidade e inclusão. Mas, oito anos passados, a quantidade de empresas em destaque pelo avanço de suas conquistas é muito pequena.
Um número significativamente menor de mulheres promovidas para primeira posição de gestão[ii], e as maiores taxas de saída de mulheres[iii] em relação aos homens na liderança ameaçam o alcance do objetivo de igualdade na maioria das empresas.
A verdade é que com maior conscientização das mulheres se torna ainda mais difícil tolerar situações típicas de desigualdade como ter suas ações desqualificadas, não ser dado o crédito adequado ao seu trabalho ou ainda ser desconsiderada em promoções, aumentos ou oportunidades de avançar na carreira.
E nos papeis liderança, o contexto sobrecarrega ainda mais a mulher que investe mais tempo e energia em uma gestão efetiva das pessoas, se preocupa com o bem-estar de seus colaboradores, e acolhe a diversidade, equidade e inclusão garantindo resultados melhores de retenção sem ser formalmente recompensada por este trabalho.
Ao final, não diferente de 2015 quando foram iniciadas estas pesquisas, as mulheres líderes seguem sendo mais exigidas que seus pares homens, gerando um resultado alarmante de 41% de líderes mulheres com burnout em comparação a 31% de homens no mesmo nível.
Quando falo em iniciativas mais amplas quero falar dos desafios enfrentados para além dos limites corporativos, os dados mostram que a medida que avançam em suas carreiras homens e mulheres assumem com cada vez mais desigualdade as responsabilidades pelas tarefas domésticas e das crianças.

Esta situação torna ainda mais crítico o estado de saúde mental das mulheres, e fortalece a necessidade de iniciativas voltadas aos homens com objetivo de conscientizar sobre a importância de compartilhar responsabilidades, de assumir um papel de cuidado e de se tornar efetivamente um patrocinador e aliado das mulheres, colegas de trabalho ou companheiras de jornada.
Sem esta conscientização, mesmo que empresas melhorem suas políticas de trabalho remoto ou híbrido, estaremos distantes de proporcionar a transformação na qualidade de vida das mulheres no ambiente corporativo.
Resultados desta pesquisa também mostram que maior percentual de mulheres em relação aos homens preferem a flexibilidade na jornada e um trabalho remoto ou híbrido, o que não deveria ser uma surpresa se entendemos que estas situações diminuem as micro agressões, o micro gerenciamento, e permitem uma gestão mais equilibrada de outras atividades além do trabalho.
As mulheres seguirão buscando empresas que ofereçam melhores oportunidades para que possam exercer todo seu potencial e se não encontrarem serão elas as fundadoras e responsáveis por seu próprio desenvolvimento buscando caminhos como o empreendedorismo, e exercendo sua liderança em outras formas.
Para as empresas que desejam realmente diminuir este gap e atender uma sociedade cada vez mais consciente o desafio é grande e complexo, por isso precisa ser tratado de forma ampla com práticas que saiam do lugar comum e que influenciem para além dos limites da organização.
[i] https://womenintheworkplace.com
[ii] Para cada 100 homens promovidos para 1º nível de gestão, somente 87 mulheres são promovidas (assumindo mesmo número de homens e mulheres)
[iii] Problema colocado em escala: para cada mulher na posição de diretoria promovida para o próximo nível, duas mulheres na diretoria escolhem sair da empresa.