
a lua está sempre cheia
Texto originalmente publicado no Estadão, no Blog Lentes de Decisão, em 14/02/2023
https://www.estadao.com.br/economia/lentes-de-decisao/a-lua-esta-sempre-cheia/
“A lua está sempre cheia” é um alerta que Shunryu Suzuki, autor de Mente Zen, mente de principiante. Ao observarmos o céu, para nós a lua se torna maior a cada noite e no 15o dia se torna cheia. Este é um aspecto da realidade, “a realidade do progresso”. Mas o outro aspecto é que a lua está sempre cheia, quer consigamos ver ou não, “a realidade tal qual ela é”. Nada falta nem é supérfluo. É nossa ilusão pensar que a lua cresce ou mingua por conta do nosso ponto de vista aqui da Terra. Vendo ou não, chamando a lua de nova, crescente, minguante ou cheia, a lua é SEMPRE cheia.
Essas duas perspectivas da realidade nos convidam a perceber a completude do que é visto e do não visto. Nos dá um momento para refletir sobre o que está fora de nossa vista, seja em casa ou nas organizações. Estamos olhando apenas para o que está iluminado? Será que precisamos olhar para partes das organizações que permanecem do “lado escuro da lua”?
Um padrão organizacional que merece atenção é o valor percebido da atividade. Contamos o número de coisas que estamos fazendo para medir a produtividade. Mas quando nos concentramos apenas na atividade, outras dinâmicas que podem exercer forte influência nos resultados acabam se tornando o “lado oculto da lua”.

Uma área que passa despercebida com frequência é a qualidade dos relacionamentos que existem tanto dentro da organização quanto entre a organização e seu ambiente externo. Falando desse lado oculto da lua, coisas importantes acontecem ali:
- As mudanças fluem através dos fios dos relacionamentos.
- O aprendizado flui através dos fios dos relacionamentos.
- A criatividade flui através dos fios dos relacionamentos.
- A adaptação e a evolução fluem através das informações que chegam através dos relacionamentos.
Talvez nossos relacionamentos sejam tão ou mais importantes que nossa atividade. Mas seu poder continua não sendo notado. Mesmo sendo uma “lua minguante”, ainda está lá. Quando aceitamos que a lua está sempre cheia, podemos buscar e valorizar coisas como relacionamentos e interdependência, que não são tão óbvias mas oferecem muita força vital para nossas organizações.
São os relacionamentos que definem a dinâmica, possibilidades e limitações num sistema vivo. É a lente dos relacionamentos, das conexões que nos permite compreender o sistema.
Se começarmos a notar as conexões e relacionamentos na organização – que é uma rede viva e pulsante – poderemos apreciar o lado oculto da lua. Mesmo que a organização seja hierárquica, as relações pulsam e fluem através ou por entre essas linhas hierárquicas. Para isso precisamos focar um pouco menos nas ações e atividades, pois essas representam uma pequena parte do todo.
Quando foi que você alavancou o poder dos relacionamentos em sua organização, e qual foi o resultado?