corpo estagnado
Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão, Estadão Digital, caderno economia & negócios, em 05/09/2024
Transparência e linguagem transverbal: Despertando o Corpo Estagnado no Ambiente Corporativo
A busca por conexão e autoconhecimento se torna cada vez mais necessária em um mundo marcado pela aceleração tecnológica e pela virtualização das relações. Neste contexto, dois conceitos se destacam: a transparência, conforme descrita por Linda Hartley, e a linguagem transverbal, conceito-base para se entender a gramática nas constelações estruturais desenvolvidas por Insa Sparrer e Mathias Varga vom Kibed. Ambos exploram a profundidade da experiência humana por meio de uma linguagem transverbal e transcontextual, capaz de revelar o que é frequentemente invisível em nossas interações. No entanto, essa linguagem muitas vezes é suprimida em ambientes corporativos, onde a comunicação se limita a trocas verbais superficiais e interações digitais, resultando em um fenômeno preocupante: o corpo estagnado.
Transparência, na ótica de Hartley, é um estado de ser em que as intenções e emoções de uma pessoa se tornam visíveis sem a necessidade de explicações verbais. Quando mente e corpo estão em harmonia, a essência de um indivíduo se revela através do movimento e da presença. Essa forma de ser e se expressar permite um nível de compreensão que transcende as palavras, oferecendo uma oportunidade para que o “invisível” se manifeste.
As constelações estruturais, desenvolvidas por Insa Sparrer e Mathias Varga vom Kibed, são uma forma de explorar e visualizar dinâmicas relacionais. Usando uma abordagem fenomenológica, os participantes apresentam seus sistemas familiares ou de trabalho por meio de representantes posicionados no espaço e utilizando-se da linguagem transverbal, ou seja, que vai além das palavras. Esse método revela interações e dinâmicas subjacentes que, muitas vezes, permanecem ocultas no cotidiano.
A riqueza deste processo reside no fato de que ele permite que os participantes sintam e observem as emoções e tensões que surgem das relações, promovendo uma compreensão mais ampla das forças que moldam suas experiências. Através da disposição espacial e do movimento dos representantes, é possível acessar uma dimensão profunda da experiência humana, proporcionando insights sobre lealdades invisíveis, conflitos não resolvidos, misturas de papéis ou posições, sobreposições e vazios.
Infelizmente, em muitos ambientes corporativos, essa linguagem transverbal e transcontextual é significativamente reduzida ou quase suprimida. O corpo estagnado é uma expressão adequada para descrever a experiência de se passar longas horas sentados em frente a telas, imersos em um mundo virtual que frequentemente limita a expressão emocional e a comunicação não verbal.
Esse estado de estagnação física e emocional traz consequências significativas para o indivíduo, para os times e para a organização como um todo. Para o indivíduo, o corpo estagnado resulta em uma desconexão entre mente e corpo, levando a níveis elevados de estresse, ansiedade e desgaste emocional. A falta de movimento físico não só compromete a saúde, mas também restringe a capacidade criativa e a disposição para inovações, criando um ambiente de trabalho que se torna monótono e pouco inspirador.
Para as equipes, a estagnação do corpo compromete a dinâmica de grupo. A ausência de comunicação não verbal impede o fortalecimento dos vínculos entre os membros, resultando em uma colaboração fraca e em uma cultura organizacional baseada em interações superficiais. Quando as pessoas não têm a oportunidade de se sentir vistas ou de expressar suas intenções e emoções de maneira autêntica, a confiança entre os membros da equipe se deteriora, levando a conflitos internos e à falta de coesão.
Por fim, para a organização, o impacto do corpo estagnado é ainda mais abrangente. Ambientes de trabalho que não favorecem a transparência e o engajamento humano não só prejudicam o bem-estar dos colaboradores, como também prejudicam a produtividade e a inovação. Organizações que operam com base em um modelo que não valoriza a conexão emocional e a expressão autêntica correm o risco de se tornarem obsoletas em um mercado que exige agilidade e adaptabilidade.
A ausência de práticas promotoras de transparência e de comunicação corporativa transverbal resultam em ambientes de trabalho onde as relações se tornam superficiais e mecânicas. Para reverter essa tendência, é essencial que líderes e gestores promovam espaços que incentivem a comunicação aberta e verdadeira.
Criar um espaço seguro para que as vozes sejam ouvidas e onde o corpo e a mente possam se conectar é fundamental para cultivar um ambiente que valorize a autenticidade. A introdução de sessões regulares para promover interação física, como pausas ativas ou atividades de team building, pode ajudar a combater o corpo estagnado e revitalizar as interações interpessoais.
Conclusão
A linguagem transverbal e transcontextual e a transparência possuem o poder de transformar relações e experiências humanas. À medida que avançamos em um mundo cada vez mais digitalizado, é essencial lembrar da importância de cultivar conexões autênticas e de valorizar as emoções que nos tornam humanos. No ambiente corporativo, criar espaço para essa expressão pode não apenas revitalizar a cultura organizacional, mas também nutrir um clima de confiança e solidariedade que permita o florescimento dos talentos individuais e coletivos. A transparência e a comunicação não verbal são, portanto, não apenas desejáveis, mas essenciais para o sucesso e o bem-estar em nossos relacionamentos profissionais e pessoais. Para superar os desafios do corpo estagnado, é fundamental adotar uma abordagem que integre corpo e mente, permitindo que a autenticidade e a expressão genuína se tornem alicerces de uma cultura organizacional vibrante e saudável.
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