Desafios e Oportunidades na Liderança do Futuro
Sigo por aqui conversando com líderes e apoiando suas equipes e os seus processos de desenvolvimento em contextos diversos, e tenho notado semelhança nas questões e necessidades que enfrentam. Independentemente de atuarem em culturas, setores e contextos diferentes, esses líderes compartilham desafios comuns.
Lançar novos produtos, engajar funcionários, reter clientes, responder às mudanças do mercado, tomar decisões rápidas, e cuidar da saúde mental são questões que ressoam profundamente em todo espectro empresarial. Quem hoje não está enfrentando ao menos uma destas situações?
À medida que exploramos essas questões juntos, uma necessidade inegável emerge: a importância de trabalhar a segurança psicológica[i]! Um conceito que começou a ser tratado em 1990 por Amy Edmondson e que hoje, mais do que nunca, se revela essencial.
Esta semana passei 2 dias com pessoas que estão fazendo a diferença neste tema, e foi incrível como em um ambiente com mais de 250 pessoas compartilhamos e aprendemos de forma leve e fluída, entendendo e vivenciando o impacto que as empresas, os times e os líderes que estão olhando para isso têm alcançado.
Ainda estou processando todas as ideias e conexões que aconteceram, mas gostaria de compartilhar a experiência que vivi participando do painel: “O Comportamento da Liderança do Futuro”.
Para falar de futuro é essencial considerar o horizonte de tempo que faz sentido com as mudanças na liderança. E se futuro é incerteza, do que mais podemos falar senão do futuro emergente, que vai se revelando à medida que os eventos, tendências e mudanças imprevistas acontecem. Porque o rápido desenvolvimento de tecnológicas como a inteligência artificial, ou a forma de lidar com eventos globais inesperados, ou a necessidade de se adaptar às mudanças nas expectativas das pessoas já estão em pleno curso!
O futuro de que falamos é hoje!
Para enfrentar os desafios impostos pelo futuro em constante evolução, é necessário realizar mudanças substanciais, afastando-se do paradigma do ‘comando e controle’ e abrindo espaço para colaboração, adaptabilidade e aprendizagem contínua.
A alta performance será alcançada por meio de um processo contínuo de autoconhecimento, aprendizagem e feedback, permitindo que os líderes e suas equipes cresçam um pouco a cada dia.
Em termos simples, acredito firmemente que o futuro exige uma liderança mais humanizada e consciente.
A humanização tem início com o líder, que com humildade reconhece que no cenário atual não detém todas as respostas, e por isso, envolve e inclui de forma participativa diversas pessoas na busca por soluções.
Este líder compreende plenamente a importância da transparência na sua gestão, o que o motiva a compartilhar dados relevantes e fomentar insights, promovendo, assim, a compreensão e engajamento em um ambiente que incentiva o aprendizado contínuo.
A transparência se manifesta também por meio do compartilhamento de suas próprias experiências, desafios e até mesmo falhas, criando um ambiente em que outros se sintam igualmente à vontade para fazer o mesmo.
O líder deixa de lado sua capa de super-herói, abandonando as máscaras, e se mostra vulnerável com propósito de escutar, incluir, fomentar diálogos corajosos e infundir significado e propósito no trabalho de todos.
O desafio é gigante! Atualmente, a maioria dos ambientes de trabalho carece de espaços de diálogos honestos e colaborativos. Vivendo em uma cultura permeada pelo medo, as pessoas não se sentem à vontade para fazer perguntas, expressar livremente suas opiniões e desafiar padrões e normas estabelecidas.
Durante muitos momentos ao longo deste evento, ouvi repetidamente sobre a importância do autoconhecimento, e tenho uma firme convicção de que o primeiro desafio que o líder enfrenta e o de se tornar consciente de si mesmo, reconectar-se com sua própria história e compreender que é parte integrante do sistema, tanto problemas quanto soluções.
Em seguida, o líder precisa assumir seu papel com coragem, estar ciente das dificuldades, aberto para o novo e colaborar ativamente, demonstrando disposição para pedir ajuda quando necessário.
A manutenção de um ambiente de segurança psicológica requer consistência e coerência. Além de palavras, o líder precisa ser um exemplo em ação.
Trabalhando ao lado de diversos líderes e equipes, fica cada vez mais evidente a importância de eles abandonarem suas certezas, soltarem o que não serve mais e estarem dispostos a assumir riscos, tudo isso em busca da promoção de um ambiente mais humano e consciente.
Ao final do dia, o futuro da liderança está intrinsecamente ligado à sua capacidade de se adaptar, aprender, e, acima de tudo, abraçar a vulnerabilidade como um ato de coragem.
Embora este conceito possa ser desconhecido para alguns, há inúmeras oportunidades à espera de todos que estão dispostos a explorá-lo[ii] e, mais importante ainda, a colocá-lo em prática nos times e ambientes em que estejam envolvidos.
Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão do Estadão Digital em 22/09/2023
[i] Segurança Psicológica – “A crença de que um membro de uma equipe não será punido ou humilhado por expor ideias, dúvidas, preocupações ou erros, e que a equipe está segura para assumir riscos interpessoais, em um ambiente que as pessoas sejam francas” – Amy Edmondson
[ii] Livros:
– “A organização sem medo” – Amy C. Edmondson ;
– “Os quatro estágios da Segurança Psicológica” – Thimothy R. Clark;
– “A inteligência oculta dos times” – Peter Cauwelier;
– “Livre para falar” – coletivo publicado pelo Instituto Internacional de Segurança Psicológica
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