flow
Texto originalmente publicado no Estadão Digital, cadero economia e negócios, Blog Lentes de Decisão, em 24/01/2024
https://www.estadao.com.br/economia/lentes-de-decisao/flow/
Encontrar espaços fluidos nas organizações
Há cerca de um ano, visitei Mendoza, na Argentina, e aproveitei para fazer uma visita não planejada às margens do Aconcágua. Durante o trajeto, notei um pequeno riacho que parecia abastecer a região. Era na verdade o rio Mendoza. Fiquei perplexa ao perceber que o leito do rio estava quase seco e me questionei como ele poderia abastecer a área. Mais tarde, descobri que as geleiras no cume do Aconcágua estão diminuindo, o que contribui para a paisagem desértica. Ainda assim, mesmo debaixo do solo, o rio continua a correr.
Essa experiência me oferece uma metáfora para refletir sobre a cultura empresarial. Grandes corporações muitas vezes são vistas como estruturas monolíticas que mudam muito lentamente. Além disso, as organizações frequentemente adotam mentalidades e práticas que não se adequam ao seu ambiente externo em constante mudança. No entanto, assim como o rio que corre sob o solo, existem bolsões de inovação próspera dentro dessas organizações.
Na minha prática de consultoria, encontro frequentemente esses bolsões de inovação próspera. Fico entusiasmada quando encontro uma equipe cheia de energia positiva e claramente focada em seu propósito mais elevado. No meio de empresas muitas vezes “áridas”, essas equipes inovadoras fazem-me lembrar as águas que correm no subterrâneo do rio Mendoza. Na linguagem da nossa metáfora, recusam-se a “secar” apesar do clima seco que abraça a narrativa da organização.
Todas as organizações, mesmo aquelas com culturas fortes e profundamente enraizadas, são muito mais multifacetadas do que aparentam. Sempre há bolsões de subculturas experimentais dentro de cada sistema. Mesmo as organizações tóxicas podem ter bolsões de saúde. Nesses bolsões, funcionários e equipes optam por se tornarem contraculturais em relação à toxicidade do sistema mais amplo.
É fácil distrair-se com mensagens vindas das grandes organizações políticas, sociais e comerciais que compõem a nossa “supercultura”. Quando isso acontecer, lembre-se do rio Mendoza fluindo no subterrâneo. Deixe a imagem servir de metáfora para alguns fatos simples, mas poderosos:
Existem exceções em todos os sistemas.
Inúmeras pessoas em todo o mundo estão escolhendo outro caminho, um caminho que flua com valores formados numa ética de cuidado.
Por fim, lembre-se que muitos de nós – tal como você e eu – estamos empenhados em criar um futuro em que o nosso bem-estar social e ecológico coletivo seja o propósito regenerativo que servimos.
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