foco na diferença
Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão, Estadão, em 31/08/2022
https://economia.estadao.com.br/blogs/lentes-de-decisao/foco-na-diferenca/
A vinheta logo abaixo do nome deste blog – Veja o que você não vê (contribuição de Cornelia Bonenkamp) – é um convite para empregar a visão sistêmica em temas mais comumente tratados com nosso pensamento mais cartesiano e linear. Mais precisamente, nesse espaço gostamos de sondar os gaps e diferenças que em outras abordagens permanecem mudos.
Hoje quero trazer os gaps e diferenças nos dados de uma pesquisa de práticas de liderança realizada em março-abril de 2021 pela Capgemini Research Institute (Infográfico Novas Competências em Liderança). Embora a pesquisa seja sobre liderança durante a pandemia e vislumbrando um cenário de trabalho híbrido, o próprio instituto já alerta que gaps sempre existiram, mas que chama atenção seu aumento considerável. Replico abaixo alguns dados:
As diferenças entre os percentuais de líderes e não líderes revelam que parte viva, mais informal e dinâmica tem espaço de sintonia. Sem diálogo e proximidade, sem segurança psicológica e honestidade brutal que possam provocar as mudanças que precisam acontecer, manteremos ou ampliaremos o gap entre as visões das diferentes camadas organizacionais. Cada um olhando de sua perspectiva mostra o espaço e oportunidade para promover conversas mais inclusivas: gerar mais proximidade entre líderes e seus times.
O que precisamos é de uma visão sistêmica e uma abordagem humana. A visão sistêmica e humana traz CLAREZA. O fator humano é o agente de transformação e não a organização, pois a organização depende que os humanos criem ou modifiquem estruturas de processos, reuniões, tomada de decisão, ou perspectiva para mudar. As estratégias mais incríveis podem ir por terra se não considerar o fator humano, como Reneé Mauborgne e W. Chan Kim já enfatizam na introdução de seu livro Blue Ocean Shift, em que criam a nova variável a ser incluída – humanness.
A visão sistêmica leva em conta as muitas causas que formam a nossa realidade e integra hard e soft skills do indivíduo que navega essa complexidade. Olhando a partir de um viés centrado em pessoas, a nossa abordagem humana, o gráfico em teia abaixo retrata a oportunidade de desenvolvimento e transformação dos líderes. A armadilha de ser aquele que conserta o que não vai bem por vezes dificulta o foco na visão de longo prazo que as empresas ainda precisam. De fato, todo sistema vivo, isso inclui as empresas, busca sua perpetuação (visão de longo prazo) e equilíbrio (soluções sustentáveis).
Abaixo, o gráfico em teia mostra, na visão dos colaboradores sem papel de supervisão, o quanto os líderes precisam avançar para serem efetivos num ambiente de trabalho híbrido. Mesmo para as organizações que optaram por voltar ao presencial, as expectativas por um novo nível de proximidade e conexão, por maior humanização no trabalho aumentou. Os dois pontos mais urgentes na visão dos colaboradores são: abertura à mudança e criação de uma cultura de confiança (nos colaboradores).
Quando pensamos o que de fato faz parte do papel do líder em relação ao(s) seu(s) time(s), em termos de sistema vivo, talvez lhe caiba sustentar a narrativa sobre o propósito por trás das metas, processos, tarefas e entregáveis. Essa narrativa tem o poder de conectar processos/ tarefas e pessoas, que buscam fazer sentido de seu trabalho. Quando as pessoas fazem parte de uma história e suas ações e papéis têm sentido, fica mais fácil buscar autonomia, auto responsabilização e clareza em seu papel.
Mesmo quando o mundo em constante mudança muda as regras do jogo, é o propósito mais conectado ao longo prazo que ajuda a chamar pela resiliência e criatividade das pessoas para buscar o próximo ponto de equilíbrio. Enquanto se busca esse novo terreno mais estável, é preciso ouvir todas as vozes atenta e genuinamente, falar sobre o que está acontecendo, sem floreios ou rodeios, para trazer o protagonismo e senso de urgência.
Estar junto deveria ter mais a ver com estreitar laços, compartilhar a narrativa, viver a cultura, para que o propósito e valores sejam vivos e vividos por todos.
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