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Lado B do home office

24 de novembro de 2020 por Cláudia Miranda Gonçalves

Recentemente, num encontro com RHs de diversas empresas, alguns desafios interessantes surgiram. Pudemos conversar um pouco sobre o que está acontecendo após meses em home office adotado de maneira quase absoluta. Medo da volta, como fazer um sistema híbrido que funcione, como tomar decisões de forma mais rápida sem ter cenários como guia…

Mas quero tratar de dois pontos que me chamaram atenção.

Qual a nova etiqueta, uma vez que o trabalho invadiu a casa das pessoas?

Forçadamente, fomos para casa e tivemos que continuar a trabalhar (para aqueles com sorte de não terem perdido o emprego) em casa, com filhos demandando atenção (crianças demoram muitos anos para terem autonomia de se cuidarem e estudarem sem ajuda ou supervisão), doentes ou idosos e a casa para funcionar de um novo jeito.

Tivemos, com tudo isso, que tolerar interrupções, barulhos, instabilidade da internet.

Como avaliar os entregáveis? Como falar sobre erros ou “distrações?”

A empresa pode demandar que a câmera fique aberta? Aprendemos a nos comportar no ambiente organizacional, com etiqueta clara, separando melhor pessoal de profissional. E agora? Para além da pandemia, qual a nova etiqueta para home office?

Acredito que tentar manter o controle não vai funcionar. Talvez as pessoas terão que abrir, não apenas suas casas, mas seu trabalho de forma mais ampla para que seja mais visível. 

A confiança e competência serão muito importantes para essa forma de trabalho. Novamente, a maioria pode buscar inspiração nas novas formas de gestão e trabalho de empresas com plataforma de tecnologia. A cultura de erro e busca aos culpados não funciona mais, pois destrói a confiança e inibe o desenvolvimento de competência.

As novas perguntas talvez sejam: Quais erros são aceitáveis nessa situação? O que se aprende aqui? O que buscar de diferente?

O feedback não é mais a mesma coisa

Ficou mais difícil criticar os entregáveis agora que se conhece melhor a vida das pessoas. Alguns líderes estão com mais dificuldade de dar um feedback mais duro sobre o trabalho por estarem dentro das casas das pessoas (virtualmente) e vendo o que se passa. Essa nova calibração entre ter empatia e ainda assim precisar de entregas confiáveis está pesando.  

Os mais novos estão perdendo a convivência com os mais seniores e assim deixam de aprender através dessa convivência. Essa transmissão informal de conhecimento e experiência, de cultura da empresa não está disponível. O que fazer? 

Fico me perguntando se não seria um bom momento de aplicar Mary Kondo no trabalho. Deixar ir processos que para essa nova configuração não funcionam. Manter o que é essencial, abrindo espaço para que novas práticas emerjam. 

Para isso precisamos estar confortáveis – por pouco tempo – com a confusão e experimentação. 

Estamos com as tarefas certas? Esses são os processos que de fato nos levarão adiante?

Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão do Estadão em 24/11/2020

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