
o arco da beleza
Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão, no Estadão em 30/03/2021
Fernando Pessoa já nos alertava: a beleza não está no objeto; a beleza também não está em quem vê o objeto. A beleza é a expressão de uma relação. Assim, a beleza pode criar um arco que abraça muito mais que estética. A palavra beleza, do latim bellitatem, significa “estado de ser agradável aos sentidos”.
A BELEZA INCLUI
A beleza pode ser o ato sensível da inclusão: podemos sentir a beleza quando ela está presente – e quando não está. A beleza pode ser um ato de inclusão quando transforma nosso olhar sobre o “mais do mesmo” em um segundo, terceiro, ou mesmo quarto olhar, incluindo novas realidades e possibilidades. E essa transformação acontece quando fazemos a beleza; quando saímos do mais do mesmo e dos padrões vigentes e nos colocamos a serviço da arte de viver.
A BELEZA É SINAL DE BEM ESTAR
Para o artista e filósofo Shakti Maira, a beleza é sobre como as coisas estão. Para ele, nossa profunda compreensão equivocada da beleza está na raiz de muitos de nossos problemas e resulta no que ele chama de “Distúrbio de Déficit de Beleza”.
Em várias civilizações antigas, a beleza era a ambição final do potencial da humanidade. Era a estrela-guia para organizar ideias, relacionamentos, e sistemas para maximizar o bem-estar. Uma boa vida era uma vida bonita. Mas, com o tempo, a beleza foi substituída por valores que podiam ser mais facilmente quantificáveis. Passamos à supremacia de valores como economia, eficiência, escala e crescimento, enquanto a beleza passou a não ser essencial, podendo ser até uma frivolidade. Despida de sua essência ética, espiritual e emocional profunda, tornou-se sinônimo de aparência superficial e luxo.
A BELEZA TAMBÉM BROTA NAS CICATRIZES
Saindo do superficial, podemos apreciar a beleza da história que pode ser contada por cicatrizes, restauros, regenerações. A beleza pede a rigorosa aceitação das coisas como são. Acidentes, fragilidades, rachaduras e quebras chamam pela força vital vigorosa e tenaz – é onde há beleza: na manifestação dessa força.
A BELEZA NOS SISTEMAS
Como seria a beleza pelas lentes sistêmicas? A beleza é uma expressão e experiência de excelência relacional. A beleza reflete as qualidades do equilíbrio, harmonia, ritmo, e proporção, e é sempre relacional e dinâmica – nunca estática. A beleza também não está apenas em objetos bem feitos e pessoas bonitas, mas aparece em todas as áreas da vida. is not confined to well-made objects or pretty people but shows up in all areas of life. Um ambiente saudável tende a ser bonito. Quando as pessoas estão em equilíbrio, harmonia e têm bom ritmo, elas se sentem bonitas desde dentro. Isso pode estender-se a todos sistemas: famílias, organizações, comunidades. Como será usarmos a beleza – nesse sentido sistêmico – como a chave mestra para abordarmos os problemas sistêmicos modernos?
Já temos uma visão mais holística se formado sobre os sistemas vivos e nosso mundo: sabemos das interconexões e interrelações. Precisamos de uma estrutura que enfatize equilíbrio, harmonia, proporcionalidade, ritmo, adequação, contextualidade, e justiça para pensarmos de novas formas sobre a natureza, meio ambiente, tecnologia, saúde, ciência e economia. Lembro-me muito das famosas soluções elegantes nas aulas de matemática e física.
Numa camada mais pessoal, a beleza – enquanto experiência de maravilhamento – ajuda a transcender a preocupação consigo próprio e assim muda a atenção em direção aos outros, trazendo um maior senso de justiça ética.
Que haja mais beleza em nossas vidas e negócios, como um indicador de justiça, harmonia, inclusão, proporção e equilíbrio.