
O Desconforto É o Primeiro Passo Para a Conexão
Algumas semanas atrás estava com uma líder trabalhando os desafios de criar espaços de diálogos genuínos na sua equipe. Com grande experiência em promover uma comunicação aberta e colaborativa no dia a dia ela sentia que não estava alcançando o sucesso desejado. No nosso processo identificamos uma característica importante que trouxe a necessidade de um olhar diferenciado: sua equipe é multigeracional!
E o que isso exige de diferente de lideranças hábeis em alinhar perspectivas para alcançar objetivos compartilhados? O primeiro passo foi pensarmos sobre as dificuldades enfrentadas e as estratégias, nem sempre óbvias, de abordagem que pode influenciar uma mudança dentro da equipe.
Você já parou para refletir quais obstáculos invisíveis podem estar dificultando o diálogo entre as gerações na sua equipe?
O diálogo intergeracional demanda equilibrar uma compreensão profunda das diferenças culturais e geracionais com a colaboração e confiança, sem que isso se torne uma fonte de conflito.
As barreiras que precisam ser rompidas são culturais e envolvem preconceitos históricos, isso pede uma liderança capaz de mediar e facilitar as relações para equilibrar tradição e inovação, com todos os envolvidos se sentindo ouvidos e valorizados.
O trabalho, portanto, começa com o líder que deve colocar intencionalidade percebendo a importância de estimular os diálogos intergeracionais de forma estruturada, deve desenvolver inteligência relacional, empatia e habilidades de comunicação, além de buscar conhecimento sobre a diversidade geracional.
Quais habilidades de comunicação e empatia você precisa desenvolver para fortalecer o diálogo entre diferentes gerações no seu ambiente de trabalho?
No dia a dia os conflitos decorrentes das diferenças de valores vão surgir e o líder deve estar preparado para assumir um posicionamento de mediador, sem favorecer nenhum dos grupos, o estilo de liderança deve ser mais colaborativo e inclusivo, atuando com muita sensibilidade e autoconhecimento para oferecer orientação e autonomia para as gerações mais jovens.
Mas a superação destes desafios não vai acontecer somente com o trabalho do líder, é preciso adotar uma abordagem sistêmica que envolve cada agente deste processo e conta com a atuação das áreas responsáveis pelo desenvolvimento e cultura da organização.
Um trabalho profundo de escuta precisa ser colocado em prática para que cada agente seja capaz de compreender os estereótipos e julgamentos presentes responsáveis por criar as barreiras invisíveis que geram as resistências. Também deve haver espaço para que sejam expressas as diferentes expectativas de forma a encontrar um denominador comum capaz de alavancar trabalho colaborativo, a inovação e resiliência diante de problemas complexos.
Os valores, expectativas e estilos de comunicação foram moldados em contextos sociais distintos e isso gera estereótipos e dificuldades de empatia. Ao se deparar com resistências é necessário compreender que não se trata apenas de uma questão individual, mas de uma identidade coletiva que exige uma abordagem mais sensível e contextualizada.
Para “hackear” um sistema mais tradicional uma ideia é criar iniciativas de diálogos como uma parte do DNA da organização, uma estrutura apoiada por um facilitador com postura imparcial, capaz de adaptar aos estilos diferentes de comunicação com capacidade para intervir de forma construtiva quando surge a tensão ou o mal-entendido. Também devem ser implementadas políticas e práticas para promover a inclusão geracional, como mentoria reversa, grupos de afinidade e workshops que incentivem aprendizado mútuo.
Como a sua organização poderia incorporar o diálogo intergeracional como parte da cultura do dia a dia?
Nossa conversa terminou com um plano de ação interessante para esta líder e sua empresa. Ao valorizar e promover a diversidade geracional, cria-se a possibilidade real de incluir, gerar pertencimento e obter resultados mais inovadores e sustentáveis. As mudanças propostas são profundas, podem levar tempo, mas uma vez implementadas, têm um impacto relevante no ambiente e nos resultados de médio e longo prazo.
Você está pronto para desafiar os padrões estabelecidos e abrir espaço para um diálogo mais autêntico entre as gerações? Com uma escolha em suas mãos, o que poderia fazer a partir daqui?
Originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão do Estadão Digital em 25/02/2025