
O Vírus da Mudança
Sim, eu sei. Está todo mundo cansado de ouvir:
- O mundo está mudando muito rápido e você (seu negócio, sua marca) não está conseguindo acompanhar.
- Ou inovamos ou fecharemos nossas portas em breve.
Prometo que não serei mais uma pessoa a reforçar essa estranha mania de sair repetindo o que todo mundo diz. Mas, sim, te faço um convite a ir além da polêmica e a descobrir o que está por trás de tudo isso. Por que é tão difícil mudar costumes, rotinas e culturas empresariais? Por que há tanto sofrimento envolvido nessas mudanças? Por que só a vontade de mudar não é suficiente?
Para início de conversa, quero dizer que se você não mudasse sempre, não estaria mais aqui. Porque mudar é parte obrigatória do processo de sobrevivência. A vida é um sistema vivo. Ela muda todo dia, toda hora e a quase todo minuto. Então, deixe de bobagem e saiba que você muda muito e sempre. Você é parte do sistema e já se adaptou às voltas que ele dá.
Agora, o que você precisa pensar é:
Será que eu estou fazendo as mudanças que eu realmente preciso fazer?
Boa pergunta. E tenho que admitir que provavelmente essa resposta é não.
Deixa eu explicar melhor: nosso cérebro é programado para não perder. Por isso, ele “esconde” de nós várias coisas importantes. É o que chamamos de crenças, regras, culturas, filtros. Se preferir, chame isso de inconsciente.
Ok, nenhuma grande novidade até aqui. O que, provavelmente, você ainda não sabe é que o seu cérebro, apesar de toda a informação que ele carrega, nem sempre sabe fazer as melhores escolhas. E só há uma pessoa que pode ajudá-lo a saber o que é importante naquele exato momento ou circunstância. E essa pessoa, é você.
E quer saber mais? Isso não é uma tarefa fácil. É que 98% de nossas ações são inconscientes e apenas 2% são conscientes. Ou seja, quando tentamos mudar alguma coisa em nós, vamos lutar contra muitas crenças, regras e registros inconscientes. Nesse caso, só vencemos; perdendo.
Brincadeiras à parte, gostaria de citar um estudo de dois pesquisadores da Universidade de Harvard*. Eles deram um nome bem interessante para essa luta entre resistir e transformar: Imunidade à Mudança.
Pare para pensar. Faz todo o sentido. Nosso maior desafio está aqui mesmo, dentro de nós. Antes de qualquer passo mais longo, precisamos que o nosso cérebro acredite que a mudança que estamos nos esforçando para realizar é importante e prioritária para nossa evolução. Que precisamos, sim, negociar valores para mudar no tempo certo, com o grupo certo e da forma mais criativa possível.
Então, eu insisto: na seara da evolução e da inovação, precisamos perder para ganhar. Perder o medo, perder a desmotivação para mudar padrões e até perder a prudência, que tanto nos protege em outras situações. E sabe por que? Porque é nessa luta contra os anticorpos que combatem o vírus da mudança que se encontra a perspectiva de inovação e a solução para transformações menos doloridas e mais criativas.
Sendo assim, só tenho mais uma coisa a dizer: cometa a imprudência (só dessa vez) de deixar-se contaminar pelo vírus da mudança. Esse, sim, é um tratamento que eu recomendo para você.
*Uma dica viral:

Título: Imunidade à Mudança
Autores: Robert Kegan e Lisa Laskow Lahey
Editora: Campus Elsevier
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claudia@weholon.com.br
Texto originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão no Estadão em 11/05/2018