
Pontes entre gerações
Cresci profissionalmente na transição do mundo analógico para o digital. Desde cedo, fui estimulada ao uso de novas tecnologias e, nas organizações onde trabalhei, sempre precisei desafiar padrões, buscando o equilíbrio entre tradição e inovação. Essa jornada me ensinou a atuar com resiliência, autonomia e grande capacidade de adaptação às mudanças.
Fui fortemente influenciada por uma geração que priorizava estabilidade e lealdade às empresas, e essa ética no trabalho me tornou profundamente dedicada ao que faço. Ao longo de minha trajetória, acompanhei a entrada dos Millenials no mercado – uma geração já conectada que desafiou a cultura organizacional ao buscar mais significado, flexibilidade, equilíbrio e aprendizado constante. Agora, observo a chegada da Geração Z e o desafio da minha geração – X – de se manter relevante em um ambiente de transformação.
Cada geração traz perspectivas únicas, experiências e valores que influenciam os estilos de comunicação, as abordagens para resolver problemas e os processos de tomada de decisão. No entanto, no meu trabalho atual como consultora e facilitadora, percebo que a resistência e os julgamentos entre gerações ainda limitam essa convivência. Falta espaço para escuta genuína, comprometendo a qualidade das decisões e a inovação necessária para enfrentar os desafios atuais.
Como podemos transformar esse cenário? O que torna um espaço de decisão verdadeiramente multigeracional e regenerativo?
Precisamos falar mais sobre ambientes multigeracionais, fomentar a colaboração e criar confiança entre as gerações no trabalho. Isso exige uma cultura de respeito que integre diferentes valores e crenças. Com base na minha experiência, destaco alguns fatores essenciais para que a tomada de decisão multigeracional funcione de forma mais eficaz:
- Compreender as diferenças:
Entender os contextos de cada geração facilita a identificação de características, valores e expectativas. Isso possibilita uma gestão de conflitos mais eficaz e o fomento de diálogos que levem a propostas colaborativas e ações mais intencionais.
- Comunicação eficaz e assertiva:
Cada geração tem preferências e estilos de comunicação distintos. Adaptar a linguagem e os formatos é essencial para garantir que todos se sintam ouvidos e valorizados. Sem este cuidado, grandes obstáculos à colaboração continuarão a surgir.
- Recrutar novas gerações para posições de decisão:
Conselhos e diretoria executiva precisam incluir a perspectiva das novas gerações para aumentar simultaneamente nossa capacidade de enfrentar crises imediatas e desafios de longo prazo.
- Valorizar e reter gerações mais experientes:
Com habilidades interpessoais mais refinadas estas gerações desempenham um papel essencial na mediação de conflitos, na construção de uma visão de longo prazo e na liderança de mudanças em cenários complexos. Elas são um ponto de equilíbrio indispensável para a organização.
Estamos vivendo um momento de inflexão, onde a mudança sistêmica se faz urgente. Unir forças entre as gerações pode ser uma poderosa alavanca para repensar estratégias corporativas e contribuir para um futuro regenerativo.
Você já refletiu sobre como pode melhorar a tomada de decisão fortalecendo a colaboração de equipes multigeracionais?
Colocar em prática ações intencionais e direcionadas é essencial para que as lideranças possam lidar de forma positiva com as diferenças geracionais, quebrar estereótipos e desafiar crenças limitantes. Sem intencionalidade, dificilmente veremos evolução neste aspecto.
Tenho trabalhado com algumas estratégias que têm mostrado impacto significativo como:
- criação de espaços para troca de conhecimento, promovendo mentorias entre diferentes gerações. Isso melhora a qualidade das decisões, impulsiona o aprendizado organizacional e fortalece o respeito mútuo
- uso de metodologias colaborativas na tomada de decisão, garantindo que diferentes perspectivas sejam consideradas e reduzindo o viés geracional. Esse equilíbrio gera inovação e aumenta a diversidade de pensamento.
- desenvolvimento da inteligência relacional e segurança psicológica, promovendo escuta genuína, empatia e respeito. Quando as pessoas se sentem seguras para contribuir, há mais engajamento e melhores resoluções de problemas.
Precisamos de um futuro sustentável e inovador. Para isso, devemos ir além da mera coexistência entre gerações – precisamos cocriar. A evolução acontece quando transformamos diferenças em aprendizados e desafios em oportunidades.
O futuro multigeracional está sendo construído agora—como você vai participar?
Originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão do Estadão Digital em 11/02/2025