Transformação requer sair da zona de conforto
Trabalhar com desenvolvimento humano e organizacional requer uma escuta atenta para entender os desafios que estão vivos em cada cliente que chega apresentando sua questão e compartilhando desejos de mudança e transformação.
Nos últimos três meses tenho visto crescer a busca por processos que promovam mais conexão entre as equipes, que favoreçam trabalhos colaborativos e que estimulem inovação e criatividade.
Apesar desta busca não ser uma novidade, o que tem chamado minha atenção é a abertura para o engajamento em atividades “não convencionais”, um sinal positivo de que talvez esteja ficando claro que não é possível enfrentar os desafios atuais fazendo as mesmas coisas que sempre foram feitas.
As entregas tradicionais têm seu impacto, mas a escuta mostra que a necessidade é por uma movimentação mais profunda, uma visão mais ampla das interrelações e um entendimento mais claro de como elementos diferentes do sistema são afetados pelas decisões e comportamentos do grupo.
Para inovar e transformar, o processo também precisa ser inovador e transformador, tirando todo mundo da caixinha!
Somente saindo da zona de conforto surge a possibilidade de ver algo novo e gerar resultados de impacto muito mais significativos e rápidos para os projetos que meus clientes estão envolvidos.
Um exemplo recente foi o trabalho com uma equipe de marketing que trouxe a necessidade de integrar o time e promover mudança de comportamento para que o trabalho realizado por eles fosse mais criativo e desafiasse o status quo da posição atual da empresa no mercado.
Para esta entrega a proposta foi usar algumas práticas de Teoria U[i] e levar o time à uma percepção maior das interrelações importantes existentes para que entregassem seus resultados.
Uma das práticas de maior impacto e que surpreendeu o time foi o uso do Teatro da Presença Social[ii], que é o componente mais experiencial da Teoria U e que tem por objetivo trazer uma consciência coletiva e a mudança do sistema.
Com origem no grego teatro vem de “thea”, que significa o ato de ver, ou seja, tornar público, divulgar. A palavra teatro pode ser definida como o lugar onde acontecem eventos e ações significativas. O teatro da presença social emerge de uma comunidade para possibilitar que esta comunidade coletivamente veja a si mesma e haja em função de um futuro emergente”
Convidado a se movimentar em silêncio em um espaço aberto e utilizar movimentos específicos observando e atendendo os impulsos de seus corpos o time vivenciou a formação de uma imagem que refletia o que os atraia individualmente ao mesmo tempo que os estimulava coletivamente. As posturas corporais e movimentos simples foram dissolvendo pontos limitantes e permitindo acesso a intuição que tornou visível a realidade atual e o que estava mais profundo no time.
Desta forma se desvelaram situações que levaríamos tempo para identificar e compreender, como os pontos de conforto, a origem dos incômodos, o desejo de movimentos, o medo e insegurança de usar a voz, os lugares com falta de conexões e, também as fortalezas que levam a alavancar e acelerar a transformação.
A partir desta imagem foi ampliado o entendimento dos elementos do sistema e suas relações, e as soluções vieram de forma fluida e intuitiva, como se as respostas já estivessem com o time desde sempre.
Surgiram insights importantes e emergiram novas questões que antes nem eram identificadas pelo time e, a experiência ajudou a definir próximos passos e tornar o que ficou visível em compromisso individual e coletivo.
Este é só um exemplo de como novas práticas (tecnologias) estão sendo colocadas a serviço das empresas para ajudar a enfrentar desafios mais complexos, estas práticas valorizam a simplicidade e utilizam a arte para despertar a inteligência natural dos corpos e acessar informações disponíveis em camadas mais profundas do coletivo para quebrar resistências, identificar padrões e romper crenças.
Muitas vezes queremos mudanças, mas buscamos alcançar usando os mesmos métodos e seguindo as velhas cartilhas, o verdadeiro processo de transformação, que incorpora de forma sustentável a inovação e criação para atender o que está vivo e emerge exige envolvimento, tempo e principalmente novas atitudes e práticas.
A verdadeira transformação requer coragem e ousadia!
[i] A Teoria U metodologia desenvolvida no MIT por Otto Scharmer para desenvolver jornada de inovação e transformações organizacionais. Bases da Teoria U podem ser encontradas no livro: Teoria U: como liderar pela percepção e realização do futuro emergente
[ii] Teatro da Presença Social (TPS) – técnica desenvolvida por Otto Scharmer e Arawana Hayashi como um braço da Teoria U que utiliza corpo e posturas corporais para trabalhos coletivos. Origens, princípios e práticas podem ser encontradas no livro: Social Presencing Theater: The Art of Making a True Move
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