Tudo junto ao mesmo tempo
E é no dia a dia agitado que a vida vai acontecendo, entre as tarefas do trabalho e atividades da vida pessoal vamos escolhendo caminhos e tomando decisões.
Houve um tempo em que eu achava que dava conta de tudo, trabalho, família, casa, com talento para organização e de natureza entusiasta encontrei equilíbrio para seguir em uma dinâmica bastante perigosa para saúde mental.
Desenvolvi muita resiliência e o tempo ajudou a me transformar, me reinventar e identificar o que me faz mais forte. As coisas precisavam fazer sentido para mim, aprendi com momentos de pausa, respiração e foco.
Desde muito cedo na minha carreira dados, modelos e tecnologia fizeram parte da minha realidade. Curiosa e provocadora sempre queria saber onde esta combinação podia dar e buscava evoluir e encontrar respostas para as muitas perguntas que sempre estiveram presentes em mim.
Foi muito bom desenvolver estratégias e participar de projetos com o desafio de tomar decisões conscientes, isso me mantinha cheia de energia e me provocava a saber mais e fazer mais.
Hoje fico animada ao observar a rapidez com que avançamos na captura, desenvolvimento e uso das informações, mas observo como este avanço rápido tem impedido as pessoas de lidar com confiança com as tantas possibilidades a sua frente.
A verdade é que a maioria de nós não tem conseguido lidar bem com o caos, com tantas mudanças e tantas escolhas.
O “agito” dos dias de hoje tem causado ansiedade, angústia, insegurança… E as empresas seguindo padrões existentes de objetivo, produtividade e performance vêm perdendo a batalha para o esgotamento, estresse e burnout de seus colaboradores.
Expressões como FoMO[i] , FoBO[ii] , JoMO[iii] foram “criadas” para descrever fenômenos sociais causados pelo aumento do volume de informações e avanço da tecnologia e a medida que o potencial de toda tecnologia vai se revelando nos vemos em contextos complexos buscando um controle que nunca esteve em nossas mãos.
Gostei muito do filme vencedor do Oscar de 2023, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”[iv], em todo absurdismo presente ele traz a representação de uma mente diante de multiversos representados por escolhas e caminhos diferentes que a vida poderia tomar diante delas. E faz um convite a reflexão sobre as escolhas que estamos fazendo hoje.
Para mim uma reflexão que convida a me reconectar com a humildade, a compaixão, a apreciação, e com a forma como estabelecemos as relações na nossa vida, as relações conosco mesmo e com as pessoas.
Como expandir nossa consciência para dar sentido ao que estamos vivendo?
E aqui o destaque é a gentileza e a empatia capazes de mudar a forma de enfrentar as questões e lidar com o próximo passo. Uma conexão com o coração onde reconheço não só minhas necessidades, mas as necessidades dos outros.
E em meio a tantas opções dar um passo e estar presente e atento aos movimentos, aceitar a confusão e ter um propósito é o caminho para lidar com o caos de um mundo conectado, rápido e cheio de mudanças.
Esta expansão de consciência e conexão com nossa humanidade são hoje meu foco de trabalho, se antes estive a frente da evolução tecnológica e do uso dos dados, agora estou a frente de promover um resgate da essência do ser humano, uma reconexão com nossas necessidades, com o que é simples para olharmos para tecnologia como uma aliada.
As boas perguntas sempre foram a base de meu trabalho, podemos ficar na confusão sem as boas perguntas. Elas estão no pensamento crítico, trazem perspectivas diferentes, e permitem orientação de longo prazo. Boas perguntas mobilizam, geram confiança, abrem caminho para uma comunicação de qualidade e trazem inclusão. Perguntas são ferramentas dos curiosos e inquietos, pessoas otimistas, perseverantes, criativas e corajosas. Perguntas são simples e direcionam nossas ações.
Para lidar com o complexo precisamos do simples, e o simples pode estar em lembrarmos quem somos.
[i] (Fear of Missing Out – Medo de perder alguma coisa),
[ii] ( Fear of Better Options – Medo de ter opção melhor)
[iii] (Joy of Missing Out – Alegria de estar desconectado)
[iv] Everything everywhere all at once – Diretores e Roteiro: Daniel Kwan, Daniel Scheinert (Daniels)
Texto originalmente publicadao no Blog Lentes de Decisão do Estadão Digital 28/03/2023
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