Y.O.L.O.[i][ii]
Começos são sempre cheios de sentimentos e sensações, do entusiasmo com a expectativa do novo ao frio na barriga com o desconhecido. Há os apaixonados por começos que querem acelerar processos e há os que deles fogem preparados para postergar movimentos.
Mas o tempo tem seu tempo próprio que não se deixa manipular e os anos vão e vêm, e a chegada do novo ano é inevitável, e só acontece após 365 dias.
Por aqui, eu inicio mais um ano com muitos planos, devo confessar que sou do time que gosta dos começos, chego revigorada após uma pausa importante e necessária, com muito desejo de impactar de forma significativa e positiva as pessoas a quem meus pensamentos alcançam.
A passagem dos anos vai tornando mais consciente e real os muitos ciclos que a vida nos proporciona, bem como o grande ciclo que ela mesma representa.
E a consciência deste movimento constante, a aceitação de que a mudança é a única coisa de que podemos ter certeza, traz para este início uma perspectiva especial.
Em minha pausa aproveitei para fazer um resgate da minha infância, passei por lugares que foram significativos para o meu crescimento e formação de valores, lembrei de pessoas queridas, e até revivi cheiros e sabores. Ainda que tenha sido deliciosa a experiência, aquele lugar já não “me tem” mais… sou uma nova pessoa e o mesmo lugar é um novo lugar.
O que me trazia alegria já não está mais lá, só existiu em um tempo e lugar, quando aconteceu uma convergência de fatores e pessoas. Também já não está mais lá o que me trazia tristeza…
E, qualquer verdade ou certeza que carregava comigo sobre este tempo se desfez abrindo infinitas possibilidades de construir algo novo. E, ao me dar conta disso, pude viver intensamente o momento, e criar memórias que vão compor o mosaico de quem me torno a cada dia.
Verdades e certezas são construídas com base em circunstâncias, e as circunstâncias mudam, os contextos se transformam. Ficar preso a elas é impedir um fluxo natural de viver, inovar, evoluir.
Nesta pausa experimentei de formas diferentes a realidade da finitude. É assustador se dar conta do fim no seu sentido mais amplo ao mesmo tempo que é reconfortante saber que tudo vai terminar em algum momento.
Mas o que acontece quando negamos a finitude das coisas no seu próprio tempo? Ao querer acelerar ou postergar, tomamos decisões e focamos nos lugares errados, ficamos cegos, impedidos de viver o fluxo, paralisados em pequenos ou grandes ciclos. Esquecemos o que vale a pena viver.
E o que vale é o agora! E o agora é a jornada, são os passos que damos a cada dia, a cada nova oportunidade, que pode estar cheio de intenções e planos, mas que requer presença e atitude. Um agora que não é vazio em si se construir significado e produzir legado.
A vida está acontecendo neste momento e nele estão contidos começos e fins. Este novo ano também vai acabar, com ele virão alegrias e tristezas, surpresas e decepções, e caberá a cada um de nós decidir a forma de navegar por ele.
Não precisamos ter medo, somente consciência da mudança constante e da finitude que traz clareza para o singular que estamos vivendo. Sem medo somos capazes de ser nos mesmos e nos divertir com erros e tropeços, e nos permitir crescer e evoluir diante do que vier.
Se a vida é uma oportunidade única não se deixe aprisionar por certezas que impedem uma vida plena, se entregue aos ciclos, esteja aberto e curioso, se emocione, deixe-se atravessar, nada é para sempre.
Vivemos somente uma vida!
[i] Y.O.L.O. – You Only Live Once – “Você vive somente uma vez.”
[ii] Originalmente publicado no Blog Lentes de Decisão do Estadão Digital em 17/01/2023
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